Europa, França e Bahia
Por Francisco Frassales Cartaxo
É comum ouvir a expressão: Europa, França e Bahia. Quase sempre com o sentido de abarcar o mundo, uma acepção do universo, às vezes, com óbvia conotação pejorativa. Desde quando morei em Salvador, guardei a impressão que a frase era invenção de baiano. Talvez tenha sido, mas nunca pesquisei sua origem.
Ao ler “Instituições políticas brasileiras”, de Oliveira Viana (1883-1951), me deparei com aquela frase, aplicada ao contexto dos sertões. Explico. No capítulo em que se atém à capacidade política da população nacional, “isto é, a capacidade para organizar e exercer os poderes públicos”, o autor separa o Brasil em três grandes grupos, vinculando-os a diferenciações regionais, do ponto de vista antropogeográfico: grupo do Centro-Sul; grupo do extremo Sul; grupo do Nordeste – populações sertanejas propriamente ditas.
Referindo-se às populações sertanejas (e não às do litoral), Oliveira Viana, entre outras considerações, afirma que “nas duas vezes em que se colocaram em condições de autonomia e independência, organizaram-se, espontaneamente, sobre uma base de ditaduras teocráticas. É o que indicam os movimentos de Pedra Bonita, no Império, e de Canudos, na República.” (p.399). Enxergou nisto um traço característico do povo de nossos sertões, não encontrado nas outras regiões, por ele estudadas. Oliveira Viana confessa não conhecer o Nordeste, ao contrário das outras áreas, para as quais ele se deslocou, a fim de estudá-las melhor. Por essa motivo, ele recorre a quem viveu e pesquisou por estas bandas, inclusive percorrendo terras sertanejas. Daí vem esta citação do publicista fluminense:
“Na sua viagem científica aos sertões do Norte (Piauí, Maranhão, Bahia e Pernambuco), Artur Neiva e Belisário Pena ficaram surpresos com a ausência – não direi do sentimento, mas mesmo da ideia de pátria comum nos sertanejos baianos do alto sertão. Para estes nossos obscuros compatriotas, o vasto mundo geográfico se resumia nesta vaga ideia e nesta expressão: Europa, França e Bahia. Esta era a única informação que tinham do mundo brasileiro. Não possuíam consciência – nem geográfica nem cívica – do Brasil: não tinham mesmo noção de que pertenciam a este grande país…” (p. 400).
A viagem dos cientistas, o baiano Artur Neiva e Belisário Pena, mineiro formado na Bahia, ocorreu em 1912.
Isso foi há mais de cem anos. Imagine se hoje alguém disser, que nem eu, minha pátria é Cajazeiras!
Presidente da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL
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