Estratégia eleitoral de Bolsonaro
Bolsonaro não tem um Plano de Ação governamental, mas executa clara estratégia eleitoral. Na campanha não existia nada organizado, discutido e estruturado acerca de como governar o Brasil. Falava-se de corrupção e acusavam as gestões petistas. Vivia-se no reino do contra. Esfaqueado, Bolsonaro não debateu nenhum tema com seriedade. Apelava para Paulo Guedes. De tanto repetir pergunte a Paulo Guedes, sua fala virou bordão imitativo do Posto Ipiranga…
E ficou nisso.
Na falta de um conjunto ordenado de proposições, sigo por outro caminho, na tentativa de aclarar a estratégia de Bolsonaro para alcançar seu objetivo central: reeleger-se presidente. Para isso, destaco algumas das ações que favorecem suas bases de sustentação. Não me refiro, por enquanto, às bases partidárias, até porque Bolsonaro as trata com desdém.
Quais as suas bases de apoio?
O governo Bolsonaro tem três fortes suportes, aqui separadas para efeito didático: a) comunidade religiosa; b) comunidade policial-militar e c) grupos político-ideológicos conservadores. Este último segmento, alimenta-se da pregação direitista de Olavo de Carvalho, que ajuda a ampliar o sentimento anti-petista, que, por sua vez, se mistura com pecha de corrupção, aplicada às gestões da era Lula. Essa linha de apoio é naturalmente difusa, sem clara agregação societária. Paira no ar. Mesmo assim, está aboletada no primeiro escalão federal, através dos ministros da Educação, das Relações Exteriores e da Justiça. Os dois primeiros, indicados, segundo o próprio, por Olavo de Carvalho. Sérgio Moro, picado pela mosca azul, surfou na onda da popularidade da Lava Jato. As ações para agradar a esse público amorfo se vinculam ao subserviente alinhamento à política do presidente Trump, à caça aos esquerdistas, além da presença no governo do ex-juiz de Curitiba.
As outras bases são bem definidas.
Os evangélicos, bem representados em Brasília, auxiliam Bolsonaro a tomar uma série de medidas que beneficiam, diretamente, às Igrejas, além, é claro, de afinar-se ao espírito conservador nelas dominante. Não é em vão que a ministra Damares Alves, controvertida personagem do ambiente político, é, conforme pesquisa recente do Datafolha, a segunda mais bem avaliada figura do governo, atrás apenas de Sergio Moro. Este, bem avaliado, menos pela atuação como ministro e mais em memória da Lava Jato.
A comunidade policial-militar, origem profissional do presidente e sua histórica base política, não se restringe aos militares das forças armadas nacionais. Estende-se ao amplo conjunto das polícias militares e civis, federal e estaduais, e suas ramificações nos grupos privados de segurança. Forte segmento da campanha eleitoral, é hoje muito bem aquinhoado no governo Bolsonaro.
Basta verificar a amplitude de participação de integrantes em todos os níveis, desde ministros aos cargos de escalões inferiores, espalhados pelo Brasil. Parte de atitudes e ações governamentais favorecem diretamente esse bloco, seja pelo tratamento diferenciado de benefícios gerais, seja por meio de atos pontuais, como convocar excepcional de milhares de militares da reserva para compor força-tarefa no INSS, como foi anunciado esta semana.
Bolsonaro pode até desdenhar de planos de governo, mas sabe cultivar suas bases de apoio. Para elas ele fala e tuita diariamente. É assim que ele espera chegar forte em 2022. Há outras linhas estratégicas bem diferentes. Mas isso é outra conversa.
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