A estratégia de Odebrecht
Esta semana a mídia inundou o Brasil de segredos do submundo político. Aqui e lá fora as vísceras da corrupção foram derramadas em páginas e páginas impressas e expostas em telas grandes e nos celulares. Não se narram fatos por ouvir dizer. Eles chegam pela palavra dos corruptores. Autores e atores. Autênticos. A gente viu e ouviu. Voz, gestos, o riso, as chacotas, o deboche dos ladrões. Às vezes, pareciam vaidosos ao revelar seus delitos, no mais natural dos mundos.
Engraçado, esta semana não ouvi nenhum político reclamar de vazamento seletivo de notícia… Nem Lula nem Aécio nem Jucá nem Renan! Nem o pastor Everaldo – que papel desempenhou o canalha, neste palco de safadeza, hipocrisia, corrupção, em que se transformou a política no Brasil. Desta vez ninguém reclamou.
O Supremo Tribunal Federal decidiu quebrar o sigilo. Liberou os depoimentos dos 88 delatores do grupo Odebrecht. Ao proceder assim, o ministro Edson Fachin nos deu a chance de conhecer segredos da corrupção. De saber como os corruptores amoldam os investimentos em obras e serviços para gerar grana e comprar políticos. Como abordam velhas raposas políticas e pescam peixes miúdos que exibem potencial capaz de influenciar futuras decisões da República. Como mudam leis, decretos, regulamentos para favorecer a ganância empresarial. Como neutralizam opositores de algum empreendimento estratégico para o grupo. A gente ficou sabendo, também, dos ardis para fazer chegar às mãos dos corruptos passivos nosso dinheiro. Como acionam empresas de fachadas aqui e lá fora para lavar dinheiro ou guardam fortunas em bancos no exterior. Enfim, eles são poder de fato.
Vimos essas coisas em doses homeopatas administradas pela mídia. A voz e a cara de ladrões a falar do dinheiro público, como se deles fosse. Eu autorizei, eu fiz a entrega, eu acertei com fulano de tal, com o candidato qual. Narram com a naturalidade de quem compra rapadura na feira. Tudo sob o comando de Marcelo Odebrecht, que, passada a arrogância inicial, começou a tramar saídas para seus crimes praticados em conluio com a classe política. E o dinheiro é de quem? Nosso. Nosso, mas a serviço desse capitalismo de merda. Agora a cara lisa foi exposta pela Justiça nos meios de comunicação. Um pequeno alento democrático.
Então qual a estratégia de Odebrecht?
Essa gente não mobilizou milionários escritórios de advocacia para salvar o Brasil. A gigantesca delação não quer apenas evitar a decretação de inidoneidade legal das empresas, cujos donos delinquiram. A estratégia de inusitadas revelações busca vender a ideia de que se pratica apenas crime eleitoral de caixa dois. Dezenas de delatores, dos 88 executivos da Odebrecht, mencionam as expressões despesas de campanha e caixa dois. Sinais da estratégia engendrada para fugir do rigor da lei penal.
Aliás, a estratégia não é nova.
Quando o mensalão ainda engatinhava, o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, percorreu o Brasil, estado por estado, vendendo a tese de que o PT não havia roubado. Apenas usara recursos não contabilizados nas campanhas eleitorais. A mesma expressão está na boca dos executivos da Odebrecht. Coincidência? Uma ova. Caixa dois é crime eleitoral, infração besta, cuja pena máxima é de 5 anos de detenção, portanto, passível de prescrever logo, logo. Assim, eles voltarão, sem tornozeleira eletrônica, a suas mansões, jatinhos, barcos de luxo. É o que desejam.
O povo espera outra coisa: cadeia para eles.
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