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Francisco Cartaxo

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Estranho pesadelo em setembro

19/09/2023 às 12h59 • atualizado em 18/09/2023 às 23h02

Sonhos ruins (Foto: Chia-Hsin Ho )

Por Francisco Frassales Cartaxo – Inúteis foram os gritos da esposa e do filho. Continuei urrando até que um leve toque no braço me fez abrir os olhos, sentir o clima de nervosismo ao meu redor… que foi painho, que foi painho, você estava sonhando o quê? Fechei os olhos e voltei a dormir, deixando sem resposta as aflitas indagações. Essa cena se repete vez por outra com pequenas variações. O pesadelo faz parte de minha história. Vem de longe, como algo natural na vida do menino que existe dentro de mim.

Cresci ouvindo o estranho rumor gutural, um pedido de socorro, ora de meu pai, ora de minha mãe. No tempo d’eu menino, filho caçula por cinco anos, dormia no quarto com os dois. Nessa época tive o primeiro contato com o pesadelo, ao acordar, escutando meu pai chamar Isabel, Isabel, Isabel… e só vê-la responder quando ele lhe tocou com a mão. Cedo da manhã, eu achando que minha mãe estava doente, pai me explicou, com mansa voz de professor, o mecanismo do pesadelo.

– Não adianta gritar, basta o contato físico.

Assim aprendi, assim faço, assim fazem comigo. Não lembro, no entanto, quando me ocorreu o primeiro pesadelo. O desta semana foi estranho. Muito estranho. Não consegui reconstituir o fio do sonho causador da agrura de querer acordar sem puder. Nem na hora nem durante o dia nem na noite seguinte me veio à mente uma figura humana, um monstro, uma árvore, tiros, vozes, um gesto, uma cena qualquer capaz de levar à identificação do pesadelo.

Esse mistério me intriga.

Quero dizer, afligiu meu espírito por mais de 24 horas. A todo instante se insinuava, na faixa cinzenta entre o inconsciente e o consciente, nos momentos mais imprevisíveis. Ao ler um livro de história do século XIX, ao correr a vista na telinha do celular, sentado à mesa para a taça de vinho do almoço, na hora do jogo do Vitória na televisão, na caminhada diária, no elevador, no banho, ao ligar a chave do carro.

Por que esse pesadelo sem causa?

Sinal da demência senil? Por instinto, olhei o calendário-papel, que ainda conservo na mesa de trabalho. Setembro. 2023. Ao fixar a vista no número 12, me tremeu o corpo inteiro. 12 de setembro! Nessa data, em 1904, ela nasceu no município de Várzea Alegre. Lá se vão 119 anos! Aos 35, com ajuda da parteira, colocou no mundo seu décimo filho e ouviu meu choro pela vez primeira. Oh, dona Belinha, por que você veio me avisar o dia de seus anos? Não precisa, minha mãe, sussurrei bem baixinho, jamais esqueço de quem eu amo.

Presidente da Academia Cajazeirense de Artes e Letras


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

Contato: [email protected]

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Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

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