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Francisco Cartaxo

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Escola Monsenhor Milanez

24/08/2015 às 09h37

Por Francisco Cartaxo

A Escola Estadual de Ensino Fundamental Monsenhor Milanez começou como grupo escolar, nos idos de 1930,quandosó havia em Cajazeiras dois grandes estabelecimentos de ensino: a Escola Normal e o Ginásio Diocesano, mais conhecidos como o “colégio das freiras e o colégio dos padres”. Era tempo do domínio quase absoluto da diocese na área educacional, ainda sob o comando de dom Moisés Coelho.Por que relembro essas coisas? Porque entre os guardados deixados por minha irmã mais velha, Maria Ilina, morta em junho passado, encontrei uma caixa com algunsmanuscritosde nossa tia, professoraAna Sales de Brito,turma de 1931 da Escola Nossa Senhora de Lourdes.Pois bem, no meio de sua produção literária, poesia e prosa, há um conjunto de discursos proferidos em solenidades cívicas. Não é necessário dizer que, nessa época, predominavam loas à memória de João Pessoa, nosso herói assassinado em julho de 1930. 

Entre os textos resgatados, selecioneia fala de Ana Sales quando da “aposição dos retratos de três grandes vultos paraibanos no nosso prédio escolar”, no dia 19.11.1932, data da “inauguração do Grupo Escolar”, segundo ela anotou. Ajovem mestra rende homenagem a três ilustres paraibanos, falecidos pouco antes:o próprio João Batista Milanez, morto em 13.01.1930, João Pessoa Cavalcanti, assassinado em 26.07.1930, e Antenor Navarro, falecido em desastre aéreo em 26.4.1932. 

Por que o nome de monsenhor Milanez, no Grupo? 

Ana Sales informa em seu pronunciamento que ele foi “um dos maiores benfeitores da instrução no País e um grande protetor do ensino desta cidade”. E, após indicar traços biográficos do ilustre filho de Guarabira, ela enfatiza: “E hoje que esta casa já se acha construída é preciso que vos diga que, para esse fim, muito trabalhou o reverendíssimo monsenhorMilanez, pois foi ele quem sugeriu ao governo a criação de um grupo escolar em Cajazeiras, esforçando-se depois por consegui-lo”. Lembre-se que ele foi diretor da Instrução Pública, cargo hoje equivalente a Secretário de Educação do Estado. Transcrevo a seguir outras palavras de Ana Sales, na linguagem formal de louvação, pomposa e elegante, usual naquele tempo. Referindo-se a “João Pessoa e ao malogrado interventor Antenor Navarro”, assim se expressou, dirigindo-se aos alunos:

“Nada é preciso dizer-vos sobre esses dois inolvidáveis paraibanos, pois conheceis todas as suas vidas edificantes, coroadas por mortes que lhes fizeram maiores, mais dignos e merecedores de glorificações, já pelo heroísmo do intrépido João Pessoa que, sacrificando-se, foi a redenção da nossa pátria, já pela morte assombrosa que lhe valeu a coroa de mártir do ardoroso Antenor Navarro. Um tombando fulminado nas ruas do Recife, (…). O outro, vítima da catástrofe tremenda do Savoia-Marchetti nas águas da Bahia, foi dentre os nossos presidentes um dos mais lembrados com tristeza, sua vida cortada em pleno viço”, e interrompendo“seu governo que era uma esperança para a nossa Paraíba”.

Relembro o episódio não só para homenagear minha tia Ana Sales de Brito. Faço-o também para, indignado, expressar solidariedade a milhares de dedicadas professoras e professoresde escolas públicas – federais, estaduais e municipais -,e de escolas particulares. Heroínas e heróis não reconhecidos no exercício da nobre missão de ensinar, semcontrapartida material à altura do sacrifício que fazem.Uma indecência política. Um desrespeito social.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

Contato: [email protected]

Francisco Cartaxo

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Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

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