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Mariana Moreira

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Entulhos de memória e história

16/11/2024 às 17h37

Coluna de Mariana Moreira - Praça do Meio do Mundo, em Pocinhos/PB - Créditos da foto: turismoehistoria.com

Por Mariana Moreira – A praça não tinha a exuberância arquitetônica de grande vulto. Sequer representava uma referência em engenharia.

Apenas algumas árvores da caatinga, xiquexiques e mandacarus sombreavam seu pequeno espaço e enfeitavam o pedestal onde uma imagem sagrada fora colocada por alguém em algum momento. Talvez por dádiva de alguma graça recebida.

Uma placa sinalizava seu singelo e poético nome: Praça do Meio do Mundo.

Mesmo na pressa que o tráfego da rodovia impunha muitos paravam, atraídos pela singularidade da praça e de seu nome. Fotos registravam o momento e ganhavam a dimensão da posteridade.

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A mesma praça que ganhou as telas de cinema quando retratada em pedaços do cenário do filme O Caminho das Nuvens.

Mas, de repente, a pressa da viagem me espanta. Não mais vislumbro a Praça do Meio do Mundo. Apenas amontoado de entulhos, o frenético movimento de máquinas e homens no processo de duplicação da rodovia. A praça fora demolida com o argumento de que se carecia de mais espaço para a ampliação da estrada, mesmo com a considerável quantidade de terras as margens da mesma e que, com menos danos históricos, poderiam ser utilizadas neste empreendimento. Desconheço qualquer consulta ou intenção dos organismos e empresas responsáveis pelas obras sobre a importância afetiva e histórica da praça e sobre a necessidade imperativa de sua demolição.

Mas, esta mentalidade é bastante fértil e recorrente. Em minha cidade, Cachoeira dos Índios, o mais antigo grupo escolar da localidade, que trazia uma narrativa histórica e arquitetônica de um período de vida da comunidade, foi sumariamente demolido apenas com o argumento de que carecia ser restaurado e que, suas instalações pequenas não mais comportavam as demandas atuais.

Então, se gastou bastante recursos públicos para sua demolição e para a construção de uma nova escola, por muitos apontadas como moderna e necessária.

Mas, não seria mais prudente e vantajoso, inclusive, financeiramente, restaurar a antiga escola e transformá-la, por exemplo, num Centro Cultural, preservando a memória e a história da cidade, e construir uma nova escola em um espaço mais amplo e com mais condições de oferta de uma educação de qualidade.

Ganhava a cidade e ganhava sua gente e sua história.

Mas, como na praça, na escola ninguém foi ouvido.

Somente o interesse político e financeiro de empreiteiras, empresas de construção e, alguns administradores públicos que, míopes de conhecimento e sensibilidade para o cuidado com a coisa pública, privilegia e valoriza apenas interesses econômicos e eleitoreiros.

E, nesse compasso, vamos ficando mais pobres de história e memória e, assim, perdemos a perspectiva de entender que “a formação da identidade cultural de um povo depende da interação entre o passado e o presente” (Rui Leitão).


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Mariana Moreira

Mariana Moreira

Professora Universitária e Jornalista

Contato: [email protected]

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