Entrevista-sabatina para políticos
Ponto para Bonner e o Jornal Nacional. A imprensa tem um papel importante no processo eleitoral. Muito embora, seja tolhida pela legislação eleitoral de participar ativamente das discussões politicas, deve aproveitar os espaços de entrevistas e debates, permitidos pela lei, para dissecar o discurso político, muitas vezes, vazios de conteúdo.
Numa campanha eleitoral, o jornalismo assume uma missão parecida com a da Justiça Eleitoral. A Justiça Eleitoral tem por missão administrar e garantir a legitimidade da Eleição. Durante a fase de registro das candidaturas, a Justiça Eleitoral exerce um papel de filtro, eliminando do pleito os candidatos sem condições legais de concorrer.
Do mesmo modo, a imprensa deve assumir o papel de fiscalizar e filtrar os discursos políticos, afastando a falácia (argumento que na aparência parece ser verdade, mas na essência é falso), as técnicas de convencimento e apontando as práticas do candidato, que não correspondem ao que falam.
Utilizar-se-ia para isso do método da sabatina. Uma entrevista não poder ser somente arguição com perguntas pré-fabricadas e a aceitação de respostas genéricas e soltas.
Os jornalistas são agentes sociais. Os meios de comunicação ora são concessões públicas (rádio e TV), ora prestam relevantes serviços ao público (imprensa). Portanto, precisam assumir um papel relevante perante a opinião publica no processo eleitoral.
Não se defende aqui um alinhamento político/eleitoral de qualquer meio de comunicação com determinada candidatura ou partido. Esse método de entrevistas deve ser aplicado de forma indistinta, para todos os candidatos, sem “jornalismo partidário”, mas com um “jornalismo independente”, exigindo dos jornalistas um esforço no sentido de formatar as entrevistas dentro de um mesmo padrão.
Dissecar o discurso meramente político e exigir compromisso público sobre temas factuais do cotidiano, deixando registradas as propostas e promessas de campanhas.
Vamos dar exemplo para também não ficar no discurso genérico. A pergunta é pensão para ex-governadores. Candidato, o Sr. Concorda com pensão para ex-governadores? A resposta será aquela pré-formatada pelos marqueteiros e que o candidato sabe que apenas tem a obrigação de responder, sem maiores questionamentos. Suponha-se que diga não concordar. Logo em seguida, é preciso que o entrevistador o interpele acerca do fato de ser (ou ter sido) governador (parlamentar) e não ter apresentado nenhuma medida (judicial) ou projeto de lei para extinguir. Por fim, o entrevistador deveria tomar o compromisso público do candidato em, sendo eleito, acabar com tal prática inconstitucional.
O mesmo se aplicaria com outros temas do cotidiano, sempre de forma dissecada e não genérica. O método de sabatina não resolveria o problema do discurso político sem compromisso, mas certamente contribuiria para o debate político nacional, estadual e municipal.
Não podemos, portanto, aceitar o simples discurso sem prática. Como preceitua Foucault, “o discurso nada mais é do que um jogo, de escritura, no primeiro caso, de leitura, no segundo, de troca, no terceiro, e essa troca, essa leitura e essa escritura jamais põem em jogo senão signos.”(FOUCAULT, Michel, A ordem do Discurso, Ed. 18° , São Paulo, Ed. Loyola:2009. p 49)
Nesse sentido, sigamos Bonner!
Campina Grande 17 de agosto de 2014
*Edivan Rodrigues Alexandre
Juiz de Direito
Professor de Direito Eleitoral
Licenciado em Filosofia
E-mail: [email protected]
Twitter: @EdivanRodrigues
www.facebook.com/EdivanRodrigues
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