Emoção do primeiro voto
Por Francisco Frassales Cartaxo
Guardo na memória a enorme vibração de votar pela primeira vez. Estudava em Fortaleza, em 1958, ano de eleição para governador, senador, deputado federal e estadual. O título de eleitor só era, então, permitido a quem tivesse 18 anos, diferente de nossos dias, quando esse direito é facultado à galera entre 16 a 18 anos. Antiga restrição: analfabeto não votava. Muitos cabos eleitorais se aproveitavam disso para “fazer eleitor”, isto é, ensinar o adulto a desenhar o nome, livrá-lo de encrencados obstáculos burocráticos, sob olhares, às vezes, de temíveis juízes de direito.
Conheci um desses juízes.
Ainda menino, em Cajazeiras, presenciei uma cena, até hoje pregada à memória. Passava em frente ao Cartório, quando fui atraído pelo vozeirão do juiz: vá aprender a ler, seu analfabeto. Você não sabe escrever coisa nenhuma… Meus olhos viram as mãos do matuto agarradas ao chapéu de palha à altura do peito, em sinal de respeito à autoridade que lhe humilhava, ali quase na porta da rua, como se fora um criminoso, a voz presa, com medo daquele Deus com roupa de juiz.
Deus que nada!
Só muitos anos depois, homem feito, pude entender a histriônica atitude da autoridade eleitoral. Alguém lhe soprara que aquele jeca-tatu era morador de um fazendeiro do PSD. O juiz, disfarçado udenista, complicava mais ainda a saga do matuto em busca da cidadania, embora naquele tempo exercê-la fosse agarrar um cabresto preso ao mourão do curral eleitoral. Hoje os currais são instituições políticas empoeiradas. Agora o voto tem um sentido democrático de verdade. Por isso, fico todo animado quando vejo a moçada de 16 e 17 anos clicando teclas para conseguir, num abrir e fechar de olhos, seu título eleitoral. Para quê? Para incorporar-se aos milhões de brasileiros que desejam expressar sua vontade política de mudar o padrão de nossos gestores públicos e de deputados e senadores. Que maravilha!
E meu primeiro voto?
Governador: Parsifal Barroso (PTB); Olavo Oliveira (PSP) para o senado. Deputado federal: Adail Barreto (UDN). O estadual ficou em suplência honrosa, Plácido Aderaldo Castelo, se não me falha a memória. A campanha foi acirrada. Emissoras de rádio e carros de som repetiam à exaustão: “Meu avô já dizia, havendo outro, não vote em Távora!”
Virgílio Távora (UDN) perdeu para Parsifal Barroso, cujo vice, Wilson Gonçalves, que, por acaso, nascera em Cajazeiras.
Presidente da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL
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