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Francisco Cartaxo

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Emancipação política de Cajazeiras

28/09/2020 às 08h51

Coluna de Francisco Cartaxo

Cajazeiras, início de setembro. Ela entrou na sala ainda cantarolando música que ouvira no carro. Cheia de vibração, antes de começar a aula, a professora pergunta qual é a data da independência do Brasil? A sala em peso responde:
– Sete de setembro!

Seria resposta ensaiada? Não, não era. Feliz e emocionada, a professora até se permite um devaneio. Recorda o desfile do Sete de Setembro, quando estudava no mesmo colégio onde hoje ensina. Certa vez, ela fora escolhida para desfilar como baliza. Naquele dia, fez questão de rebolar no capricho para que suas rígidas coxas de jogadora de voleibol não tomassem o lugar da bunda, a protagonista. Então riu, mergulhada na saudade de si mesma e, por um minuto, se imaginou a despertar sublimes instintos na assistência…

Entre suspiros, voltou à realidade.

Agora, outra pergunta, falou, recompondo-se do inusitado mergulho na memória, e lança o desafio: em que dia se comemora a emancipação política de Cajazeiras? Silêncio. Furtiva troca de olhares. Risos nervosos. Cochichos. Professora, comemora o que mesmo? Do fundo da sala, a voz quebra o silêncio.

– E-man-ci-pa-ção, a data em que Cajazeiras se libertou do município de Sousa.

De novo, o silêncio. A professora não esmoreceu. Ora, ela mesma nunca atentara para a tal data, habituada às comemorações do Dia da Cidade. Só despertou após ler um artigo chamando a atenção para o desdém com que é tratada a data da criação do município de Cajazeiras. Sabe este velho cronista que a independência do Brasil, grande e autônoma nação, não pode nem de longe equiparar-se à emancipação de um pequeno município. São grandezas de natureza diferente. Mas desprezar a data, confundi-la com a dia do nascimento do padre Inácio de Sousa Rolim é um erro. Artifício legal que prejudica a compreensão de fatos passados, do desempenho de relevantes personagens e a magnitude do papel do próprio padre Rolim para tornar Cajazeiras uma cidade de formação histórica singular.

É tempo de desfazer o erro.

Por isso a Academia Cajazeirense de Artes e Letras levanta a questão. Em nenhum momento, a ACAL admitiu eliminar do calendário de feriados municipais a Semana da Cidade, em homenagem ao padre Rolim, o maior de todos os cajazeirenses. Nem trocar as datas. Note-se, a ACAL está repleta de laços históricos que a ligam ao padre Rolim. Basta ver na lista de seus Patronos, Mãe Aninha, padre Heliodoro Pires, padre José Tomaz. O padre Rolim é “Patrono Honorífico”, portanto, diferenciado de todos os outros. E mais, no Estatuto da ACAL está escrito que é obrigação dos acadêmicos comparecerem a, pelo menos, duas reuniões por ano, “uma das quais a realizar-se no mês de agosto, por ocasião da Semana da Cidade”. Ora, a “Semana da Cidade” foi instituída para reverenciar com todas as honras o padre Rolim.
Cito fatos. Não uso artimanhas. Distorcer o movimento encetado pela ACAL, é atitude leviana. Irresponsável. A Academia propõe tão somente o respeito ao fato histórico: tornar o dia 23 de novembro a data comemorativa da emancipação política e administrativa de Cajazeiras. A criação do município se deu por meio da Lei Provincial nº 92, de 23 de novembro de 1863. A partir daí Cajazeiras se libertou, formalmente e para sempre, do município de Sousa. Assim, a professora, no futuro, não terá o silêncio como resposta.

Vamos fazer uma pausa. A eleição contamina tudo. Depois do pleito, a ACAL volta a tratar dessa questão, com seriedade e muito amor a Cajazeiras.

Presidente da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

Contato: [email protected]

Francisco Cartaxo

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Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

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