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Renato Abrantes

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Em lugar nenhum

18/08/2010 às 00h00

“ – Meu amigo, não faça isto!”, exclamou João ao seu colega de trabalho Marcos. Os dois trabalhavam numa marcenaria, na cidadezinha de Mega, interior remoto do Estado das Ligranas, lá no país de Utopos.

A vida lá era boa. Todos viviam satisfeitos.

Democracia era coisa desconhecida por aquelas bandas. O povo atingiu tanta consciência a respeito dos direitos e dos deveres, que não havia necessidade de entregar parcela da própria liberdade e colocar na mão de um representante comum.

Jean Jacques Rousseau e o seu contrato social eram ridicularizados nas ruas e, nas faculdades da cidade, estudados apenas na grade curricular do curso de história. Nos cursos de direito e filosofia, era apenas uma teoria ultrapassada. Todos sabiam o que podiam e o que deviam.

O senso republicano, porém, era arraigado na alma do povo. Sem cair no já confirmado erro comunista, tudo era de todos; melhor ainda, todas as coisas eram públicas, com o devido respeito à propriedade privada. Ninguém depredava os bancos da praça central de Mega; as bombas de gasolina seguiam o sistema do auto-atendimento, e ninguém deixava de pagar. O cidadão tratava o bem público como se seu fosse.

As faixas de pedestre eram respeitadas e, quando havia algum raro acidente, os envolvidos se tratavam com muita polidez e urbanidade. Em Utopos, polícia era apenas uma lembrança remota. Não havia crimes. Como a natureza humana é sempre a mesma, em todos os lugares, havia casos mínimos de transgressão à ordem estabelecida. O diferencial daquele país era a coragem que um tinha de corrigir o outro, além da grandeza deste em se deixar corrigir, e melhorar de fato.

Todos os habitantes de Utopos se sentiam responsáveis pela segurança própria e alheia. “Meu amigo, não faça isso”, era a forma como uma pessoa advertia a outra, seja nas coisas grandes, seja nas coisas pequenas. Do mesmo modo como João alertou Marcos, lá na marcenaria. Marcos estava cochilando em seu trabalho, descumprindo os preceitos lapidares da atenção e da honestidade. Dormindo, poderia haver algum acidente, além do que, não estaria sendo honesto com seu chefe, que o contratou para isso.

Utopos era referencial, tanto do ponto de vista da nação, quanto das pessoas em particular. Marcos acatou a observação do seu colega de trabalho e voltou diligente ao que estava fazendo. Em outros lugares, isso daria muita confusão. Ali não.

E Utopos seguia o seu rumo, inspirando outras nações.

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Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Renato Abrantes

Renato Abrantes

Advogado (OAB/CE 27.159) Procurador Institucional da Faculdade Católica Rainha do Sertão (Quixadá/CE)

Contato: [email protected]

Renato Abrantes

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Advogado (OAB/CE 27.159) Procurador Institucional da Faculdade Católica Rainha do Sertão (Quixadá/CE)

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