Efigênio Feitosa, adeus
Guardo muitas lembranças de Efigênio Feitosa. A política, que tanto afasta, nos uniu. Em 1982, fui candidato a prefeito de Cajazeiras, pelo PMBD, com a prévia certeza da derrota, em face de uma eleição para dar a vitória ao governo. Voto vinculado obrigatório, sublegenda partidária e fortes restrições ao uso do rádio e da tv. E pior, naquele ano, Bosco Barreto desprezou seu passado de contestador e fez um acordo com Wilson Braga (PDS). Ele e Marcondes Gadelha, “inimigo” de Antônio Mariz, que era o candidato do PMDB a governador.
Em Cajazeiras, a disputa efetiva para prefeito se deu entre Epitácio Rolim e Antônio Vituriano. Brigavam entre si, mas os votos dos dois somavam para o PDS, o partido governista, graças à sublegenda. Ao PMDB restava à “zebra”, cuja imagem circulou por ruas e sítios. Nesse clima eleitoral nasceu nossa amizade. Efigênio costumava repetir:
– Eu não saio de meu partido, Bosco que vá pra baixa da égua…
O “meu partido” para Efigênio era o velho PSD de Rui Carneiro que, para ele, virou MDB e ganhou o P no PMDB. Igual a Eudes Cartaxo, sua fidelidade partidária era total. Nesse tempo, criamos um vínculo duradouro, muito mais sólido do que com o seu irmão, Edmilson Feitosa, então candidato a vereador. Vivemos alguns momentos de tensão. Certa vez, fomos a um forró num sítio em “homenagem ao candidato do PMDB”, por insistência de um bodegueiro, “amigo” de Edmilson. Quando lá chegamos, a festa já ia alta… tão alta quanto os bêbados! Notei algo estranho. Se a festa era para homenagear o candidato da oposição, cadê os retratos de Frassales? Não enxerguei nenhum. Nem recebi sequer o chato abraço de embriagados… Esquisito, não? Então, me aproximei de um grupo e arrisquei, E aí, como vai nosso candidato!
– Noutro lugar eu não sei, mas aqui não tem pra ninguém, aqui só dá Vituriano…
Circulei um pouco já com a decisão de cair fora. Chamei Wilsom Moreno e falei claro. Veja a despesa até agora, pague e vamos embora. “Mas Frassales, a gente acaba de chegar”… Falei de bate-pronto. Aqui eu não fico, vamos embora. Sem opção, ele pulou o balcão e logo voltou, anunciando o prejuízo: 10 garrafas de cana e outro tanto de cerveja. Já liquidei tudo, disse e chamei os outros companheiros.
No carro fez-se um silêncio brutal.
Só escutei uma frase: caímos no conto do forró… Era Efigênio deixando vazar sua proverbial ironia. Nisso, vimos duas grandes pedras no meio do caminho. (Na hora, nem lembrei do poeta Drummond!). Emboscada, pensei. Parado, com os faróis acesos, esperei. Edmilson e Wilsom desceram e foram na direção das pedras. Afinei o ouvido no aguardo do estampido. Rápido, os dois afastaram o obstáculo. Suspiramos. Se era armação ou brincadeira… nunca se soube.
Esse episódio, Efigênio e eu repassamos muitas vezes, no Café São Braz, onde ele alimentava o hábito do cafezinho e o vício do cigarro. Nos últimos anos, já abalado pelo Alzheimer, eu ia visitá-lo em casa. Era um alento nostálgico. Ano passado, porém, envolvido com a ACAL, não fui lá. Um belo dia, lá vem ele. Sozinho. Um perigo. Ouvi no rádio que você estava aqui na casa de Tantino, aí vim bater papo. A conversa fluiu cheia de pausas. A memória lhe escapando a todo instante, a misturar datas, pessoas e fatos.
Faleceu domingo, com 85 anos de idade. Dona Marieta e os filhos – Eugênio, Eliane e Erlane – sabem que Efigênio primava por cultivar amizades. Adeus Efigênio.
Presidente da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL
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