E começa a Copa
E começa a Copa. Em qualquer recanto deste país tremula uma bandeira verde-amarela, confeccionada com ricos materiais ou improvisada no ritmo da criatividade popular. E não adianta as motivações pessimistas ou as atitudes intransigentes e radicais que, por intencionalidades situadas além do gramado, tentam ofuscar ou conturbar a realização do evento. Não inventamos o futebol, mas o instituímos como um dos mais determinantes elementos de nossa cultura política e esportiva, no curso de práticas sociais e de vivências humanas, ao traçarmos o desenho de nacionalidade que nos cartografa.
A revelia dos usos e abusos que, em vários momentos históricos, sobretudo, em regimes de exceção e em ditaduras, quando o futebol foi usado como ferramenta de manipulação popular, ou como estratégia de camuflagem para atos de tortura e de desrespeito a direitos, autonomias e demandas sociais, em nosso país o futebol também funcionou e funciona como elemento agregador. A despeito do uso nocivo que alguns destinam as torcidas organizadas, essa prática, em muitos momentos, é referenciada como estágio de sociabilidades, sobretudo para jovens de grandes centros urbanos e com raríssimas oportunidades e frágeis ou inexistentes espaços para o lúdico, o lazer, o entretenimento.
Como desmerecer os espaços sociais e as sociabilidades que são instituídas nas “peladas” que, tradicionalmente, acontecem após o fim dos expedientes de trabalho quando amigos e uma bola improvisam jogadas, suam camisas, sonham glamour de ídolos famosos em quadras, estádios ou rústicas várzeas. Espaços sociais onde jogadas nem sempre técnicas, seja pela inabilidade ou pela incompatibilidade física entre o jogador e as exigências do esporte, fazem a alegria e fortalecem os laços sociais. Espaços onde conversas, amizades, camaradagens são trançadas e firmadas entre gritos de gols e goles de cervejas geladas.
Como desmerecer ou ignorar que, economicamente, hoje no nosso país o futebol é uma importante peça da engrenagem econômica que gira e movimenta cifras astronômicas, não apenas nas transações dos craques ilustres, mas em toda uma estrutura de produção e comercialização de produtos e serviços, na operacionalização e exploração de equipamentos sociais de uso público, como estádios e congêneres. O futebol, como peça fundamental da montagem econômica circula renda, cria oportunidades de emprego e, indiscutivelmente, estabelece nexos entre uma representação e idealização cultural e possibilidades de vida digna para milhões de brasileiros.
E as cores, sons, cheiros, sabores e odores da Copa do Mundo terminam contagiando e contaminando a todos. Atividades são organizadas entre grupos de amigos para assistir aos jogos. Bandeirolas são penduradas em janelas. Ruas são tingidas de verde e amarelo.
Não sei os demais viventes, mas estou no clima da Copa. Com bandeirola presa no vidro da janela do carro, sandália e camiseta verde e amarela e, complementando o visual, o Fuleco pendurado no pára-brisa do carro. Afinal, como boa tricolor, vou torcer pelo Fred, um dos grandes craques dessa Copa. E não se fala mais nisso.
Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.
Leia mais notícias no www.diariodosertao.com.br/colunistas, siga nas redes sociais: Facebook, Twitter, Instagram e veja nossos vídeos no Play Diário. Envie informações à Redação pelo WhatsApp (83) 99157-2802.
Deixe seu comentário