header top bar

José Anchieta

section content

Duas Novas Cores na Bandeira Nacional

06/06/2008 às 19h24

Ó Brasil, estou com pena de ti! Entraste no rol das chamadas “nações evoluídas”, dado o indeferimento à Ação Declaratória de Inconstitucionalidade do art. 5º da Lei 11.105/05, a famosa Lei de Biossegurança (biossegurança?), por parte do teu “Pretório Excelso” (o Supremo Tribunal Federal), que esperávamos fosse julgada procedente.

Porém, com mais pena ainda, estou dos embriões congelados, inicialmente qualificados como “inviáveis”, apenas porque, fecundados in vitro, ou seja, tornados gente, não foram implantados nos úteros de suas mães (eram os mais “fraquinhos”). Coitadinhas dessas mães também, que talvez nem soubessem que estavam se tornando partícipes dos assassinatos em massa de seus próprios filhos!

Meninos, meninas, talvez grandes mulheres e homens, ainda no estágio inicial de suas vidas, com apenas nove ou dez células, condenados, com o aval da lei, à morte, fatiados impiedosamente por micro lâminas, para que, com seus pedaços, seja levada adiante mais uma mentira da ciência desonesta: a da falsa cura, conseqüência do pseudo-sucesso com as terapias, fruto das pesquisas com células-tronco embrionárias.

Lastimável e irreversível engano, ó Brasil. No meio científico não se constatou ainda um único caso de cura satisfatória, mesmo em países onde tais “pesquisas” (leia-se chacina) acontecem há décadas. Contudo, resultados mais que animadores sim, a partir de pesquisas com células-tronco umbilicais e adultas, perfeitamente aceitáveis do ponto de vista ético, em que constem não profanarem o dom intocável da vida.

A religião foi posta de lado; e, sabe Brasil, concordei com isso. Este não é, em primeiro lugar, um assunto para a religião; ridicularizada, porém, cumpriu muito bem o seu papel, deixando que a moral, o bom senso e a ciência honesta tomassem a palavra perante teus ministros e fizessem a esplêndida defesa da vida, pronunciando-se contra esta lei imoral que agora respalda os laboratórios genéticos (matadouros imundos) das tuas terras.

Dentre os brilhantes oradores pró-vida, como não citar os Drs. Yves Gandra Martins (magnífico constitucionalista que, sem tremer, nem temer, lamentou que tu, Brasil, desses mais proteção a ovos de tartarugas, do que a teus filhos) e Cláudio Fontelles (ex-Procurador-Geral da República, homem de virtuose comprovada). Infelizmente, brasileiros, ó Brasil, dos quais tu não és digno. Este último entende de vida sim; posso dar testemunho dele em qualquer lugar, pois o conheci na Vila Varjão, favela de Brasília, com o pé na lama, dando catecismo para os adolescentes que se preparavam para a crisma. Sob o pretexto de um fim bom, meios perversos. E, para mexer com o emocional de quem deveria ater-se somente às questões técnico-jurídico-científicas antes de decidir, cadeirantes e outros portadores de deficiências rastejando deploravelmente aos pés de Têmis, a deusa da justiça, que, cega estava felizmente cega permaneceu, crendo eu que nem ela agüentaria tanta apelação.

Mas, porque tudo isso nos causa admiração? Tu já és conhecido como o país da mentira, Brasil! Tu és o país da fantasia! Desde o “abaixo dos trópicos tudo é permitido” até o uso de Cartões Corporativos para pagamento de casas de prostituição (e viva à Pizzaria Congresso!), mais uma vez, Brasil, nos mostras quem és: tu és um país mentiroso e atrasado. Dás um passo à frente, dois ou três para trás. Não és esse país de vanguarda que teus maiorais insistem afirmar, mas um país de retaguarda, digno da mais sincera reprovação de qualquer pessoa de bom senso.

Será que não percebes o quanto pagas pelo mau que fizeste no passado aos índios e escravos de tuas e de outras terras? Será que não notas o quanto teus filhos sofrem no presente, vitimados pelas injustiças clamorosas cometidas ao gosto de quem tem mais, pela violência que estabelece um Estado paralelo e te incapacita sequer de proteger teus cidadãos? Será, Brasil, que ainda queres garantir para o teu futuro a ira divina que virá certamente? Com a vida não se brinca, Brasil! Sei que não percebes nada disso, assim como teus representantes “nada sabem”; mas, eu sei que carregarás permanentemente contigo a mancha maldita e a responsabilidade grave por esta decisão tomada em favor da morte.

Tua tão bela bandeira, tremulando silenciosa e altiva no mastro, assumiu mais duas cores, a preta do luto por aqueles a quem ninguém vai chorar (os embriões) e a vermelha do sangue derramado e que clama por justiça, já que em ti, Brasil, a justiça não foi feita.

Por isso, Brasil, com os meus compatriotas de bom senso, confesso-te: tenho vergonha de ti. Seja resgatado e faça-se ouvir mais alto, restaurando nosso orgulho pátrio, o “brado retumbante de um povo heróico”: BRASIL ACIMA DE TUDO!


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

José Anchieta

José Anchieta

Redator do Jornal Gazeta do Alto Piranhas, Radialista, Professor formado em Letras pela UFPB.

Contato: [email protected]

José Anchieta

José Anchieta

Redator do Jornal Gazeta do Alto Piranhas, Radialista, Professor formado em Letras pela UFPB.

Contato: [email protected]

Recomendado pelo Google: