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Mariana Moreira

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Dragões de sóis e ventos

06/04/2023 às 19h53

Coluna de Mariana Moreira - imagem ilustrativa - reprodução/internet

Por Mariana Moreira – De repente, a paisagem ganha novas configurações com os seus gigantescos engenhos de energia eólica ou os enormes painéis de captação de energia fotovoltaica.

A explicação mais frequente para essas mudanças é a inevitável presença do progresso e do desenvolvimento que avança sobre todos os lugares promovendo e democratizando o acesso a todos dos benefícios gerados pela ciência e pelo conhecimento na produção de condições de vida confortáveis e livres de mazelas e atrasos sinonimizados em fome, sede, isolamento, escuridão, carências.

Mas, qual o preço que a expansão destes engenhos credita na conta, sempre escondida, da devastação do meio ambiente, de comunidades tradicionais, de bichos e gentes que vivem há tempos tantos nestes lugares?

Não se promove uma ampla discussão com a população, sobretudo, com as comunidades diretamente afetadas por essa “expansão do progresso e da ciência redentora”, acerca dos impactos que tais iniciativas desencadearão em suas vidas, e na vida dos animais e plantas que compõem o meio ambiente onde elas estão inseridas.

Os enormes engenhos que são montados para a produção da energia eólica exigem, no procedimento de sua montagem e operacionalização, a abertura de acessos que rasgam a caatinga, quebram espaço de habitação, alimentação e pouso de aves e animais, rompem vínculos de comunidades e, sobretudo, intervêm no espaço físico e cultural. Situações que não são devidamente consideradas e, sobretudo, conversadas com as comunidades. Tudo em nome de um desenvolvimento que tem como única referência o lucro de alguns.

Na mesma medida, as enormes áreas devastadas para a implantação dos painéis solares para a produção da energia fotovoltaica seguem a mesma trilha da destruição. Considerando que os painéis carecem estar absolutamente livres de interferência de sombras, principalmente de árvores, os terrenos onde eles serão instalados são esterilizados permanentemente. E, para tanto, este solo recebe, com regularidade tratamentos que inibem o nascimento de plantas. E como isso é feito? Não se discute com clareza. Afinal, tudo se justifica em nome de um desenvolvimento que tem como única referência o lucro de alguns.

E os versos de Vital Farias alimentam, mas não acalentam minha angústia, ao lembrar que:

Toda mata tem caipora para a mata vigiar.
Veio caipora de fora para a mata definhar.
E trouxe dragão de ferro, pra comer muita madeira.
E trouxe em estilo gigante, pra acabar com a capoeira.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Mariana Moreira

Mariana Moreira

Professora Universitária e Jornalista

Contato: [email protected]

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