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Francisco Cartaxo

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Dona Belinha nasceu há 120 anos

09/12/2024 às 21h11

Coluna de Francisco Frassales Cartaxo - Foto: arquivo pessoal

Por Francisco Frassales Cartaxo – Minha mãe faleceu aos 92 anos, em 10 de novembro de 1996. Nada escrevi a esse respeito, como desejei. Leitura do romance Rio sangue, de Ronaldo Correia de Brito, me encheram de fantasias e associações. Por quê? Talvez pela presença, entre os personagens criados pelo escritor, de indígenas na época da colonização de nossos sertões. Ora, minha mãe descende de uma nativa, cuja origem e o nome ficaram à margem da história familiar. Sua avó materna, Ana Isabel Gonçalves de Sales, talvez seja filha da indiazinha preada nua na beira de um afluente qualquer do rio Jaguaribe.

Minha tia mais velha, Inácia, sempre relembrava.

Isabel Sales de Brito nasceu em Várzea Alegre (CE), em 12 de setembro de 1904, filha do segundo casamento de dois viúvos: José Joaquim de Brito e Joana Sales de Brito. Aos dez anos de idade, junto com a família, migrou para São João do Rio do Peixe. Seu pai, apelidado de major Zuza da Inácia, teve que abandonar às pressas sua terra, com um salvo-conduto assinado pelo padre Cícero Romão Batista, em 1914, fugindo da perseguição dos rebeldes que alimentaram a Sedição do Juazeiro, instigados pelo médico baiano Floro Bartolomeu, chefe político no Cariri, aliado do padre Cícero.

Major Zuza demorou pouco na terra do padre Cirilo de Sá.

Com quatro filhas e três rapazes, major Zuza veio para Cajazeiras, a fim de facilitar-lhes o estudo. Isabel, a terceira das irmãs, abandonou a escola, seduzida pelos versos do viúvo/farmacêutico Cristiano Cartaxo. Pelo costume da época, o emissário encarregado de pedir a mão da filha deixou perplexo o pai da moça.

– Isabel? Mas é quase uma menina… não será com Inácia que doutor Cartaxim quer casar?

– Não, não. Ele falou I-sa-bel.

– Inácia está com 20 anos, quem sabe…

– Major, o compadre Cartaxo está apaixonado é pela Isabel.

Não houve jeito.

No em 12 de setembro de 1921, Justo no dia em que completou 17 anos, Isabel casou-se com o viúvo de 34 anos! Ao invés da escola… filhos! Sua irmã mais nova, Ana Sales de Brito, sim, concluiu o Curso Normal, tanto que no dia 25 de novembro de 1931, em nome das concluintes, leu o juramento na presença do interventor da Paraíba, Antenor Navarro, do bispo dom Moisés Coelho e muitas autoridades locais, paraibanas e até do Ceará e Rio Grande do Norte!

E dona Belinha?

Naquele dia, minha mãe estava à espera do sétimo filho, o que nasceu em 9 de janeiro de 1932! Quem? Joana, anos mais tarde, Joana Cartaxo Guimarães, mãe do oftalmologista Sabino Rolim Guimarães Filho. A pisada continuou até o décimo segundo filho, Evan, único que não vingou, mal teve tempo de batizar-se. Fim de rama, fim de rama… dizia meu pai, cabelos brancos feito algodão.

Da Academia Cajazeirense de Artes e Letras


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

Contato: [email protected]

Francisco Cartaxo

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Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

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