Do posto Ipiranga ao padre Cícero
Por Francisco Frassales Cartaxo
Propaganda de importante rede de postos de combustíveis migrou, em 2018, dos comerciais de televisão para o noticiário político. Seu bordão-chave foi adaptado pelo candidato Jair Bolsonaro: “pergunte no posto Ipiranga”. Pronto, estava formada outra farsa da campanha eleitoral, que permitiu ao capitão reformado subir a rampa do Planalto. Para governar, um presidente não precisa saber nada de economia, finanças, direitos trabalhistas, desigualdades regionais e sociais. Basta recorrer ao posto Ipiranga. Assim, o candidato disfarçava sua ignorância!
Quem era o posto Ipiranga?
Paulo Guedes. Economista, transformado em prestidigitador, com formação acadêmica nos Estados Unidos. Para muitos de seus colegas sua fama se devia à sagacidade de ganhar dinheiro, sem a menor preocupação com a produção de bens e serviços. Ou seja, sem olhar para o mundo real, onde se gera emprego e renda produtivos. Era visto assim, com desconfiança, nos meios profissionais, dos quais sou mero figurante. Sendo bem claro: Paulo Guedes não era levado a sério. Mas agradava ao sistema financeiro, afeito aos ganhos fáceis, de costas para a vida das pessoas que sofrem as agruras da falta de trabalho, de moradia, da educação escolar, da insegurança dos transportes coletivos. E da fome.
O mágico do posto anda sumido.
Até sua imagem rareou na mídia. E quando aparece denuncia seu acabrunhamento. Fala sem convicção. Às vezes, mais parece personagem de Lima Barreto às voltas com seus dramas suburbanos. O posto Ipiranga sumiu… Pior para o Brasil. A farsa era geral. Nada se entendia de saúde. Aqui foi um horror. Senta-levanta, senta-levanta. “Um manda o outro obedece”. Na angústia coletiva da pandemia, a ciência substituída pela hierarquia, princípio inerente às corporações militares, mas desastroso para cuidar de vidas humanas.
A história não perdoará.
Enquanto, porém, os fatos não entram na grade histórica, a ignorância persiste sob muitas formas. Manifestação recente ficou estampada na confusão relacionada à origem do padre Cícero Romão Batista. Com o lugar de nascimento do santo do povo, muito embora nunca reconhecido pela hierarquia da Igreja Católica. Se o presidente não sabe o que é de domínio público – supremo desprezo a Juazeiro do Norte, o mais importante centro de irradiação da religiosidade popular do Brasil -, que se pode mais esperar?
Ainda bem que Padim Ciço não guarda rancor!
Presidente da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL
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