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Francisco Cartaxo

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Deus levou minha irmã freira

28/05/2018 às 10h16

Maio mais parece o mês de agosto, carregado de notícias tristes para mim. Semana passada, meu sogro, Severino Galvão, faleceu no Recife. Oito dias depois, Deus levou para sua companhia eterna minha irmã freira, Isabel Sales Cartaxo, depois de viver 91 anos.

Quase a mesma idade de sua mãe, de nome igual. Dona Belinha, a mãe, já completara 92 anos quando fechou os olhos pela última vez, em 1996.

Irmã Isabel, ou Isa, o apelido de família, estava morando em Fortaleza, num ambiente reservado para freiras as idosas, aposentadas. Uma dessas dependências foi construída em Natal, por irmã Isabel, muitos anos atrás, quando lá esteve dirigindo do Colégio Maria Auxiliadora. Isa adorava Natal. Ali residiu anos seguidos, sentindo-se bem, em clima de amizade com ex-alunas e gente amiga da capital potiguar. Mas as complicações de saúde, próprias da velhice, findaram por determinar sua transferência para o Ceará, onde descansou o corpo e o espírito, após a falência múltiplas dos órgãos.

Quinta filha do casal Cristiano Cartaxo e Isabel, Isa nasceu em Cajazeiras em 1927. Aqui fez seus estudos até concluir o curso normal no Colégio Nossa Senhora de Lourdes, em 1944. Essa turma de professoras teve como paraninfo o professor Cristiano Cartaxo Rolim, sendo oradora a concluinte Irene Medeiros, filha do comerciante e fazendeiro Artemísio Medeiros, assassinado, barbaramente, alguns anos depois, no centro de Cajazeiras. Crime praticado sob encomenda que ficou gravado na minha memória de criança. Um dos mais hediondos homicídios da história de Cajazeiras. As outras colegas de Isabel Cartaxo foram: Lindalva Claudino, Cecília Maciel, Adersina Bezerra, Nevinha Marques, Dilinha Guimarães, Ivete Mendes, Nilde Gonçalves Moreira, Terezinha Lacerda, Ilca Gomes, Ideklzuith Gomes de Sá, Adalgisa de Sousa e Ruth Lira Pessoa. Assim registra o livro de João Rolim da Cunha sobre o famoso colégio.

Por que Isa quis ser freira?

No seio da família sua ida para o convento das salesianas é envolvido em mistério. O costume antigo entre famílias católicas, conservadoras, de muitos filhos era escolher um menino ou uma menina para ser padre ou freira. Um irmão mais novo de Isa, Higino Rolim Neto, já estava no meio salesiano, cursando filosofia no seminário de Carpina, quando ela revelou sua vocação religiosa. Causou surpresa. Nunca demonstrara inclinação para a vida religiosa. Foi decisão pessoal, exclusiva dela, já em idade de saber o que realmente queria para seu futuro. O irmão, ao contrário, foi encaminhado muito cedo, aí pelos 12 anos de idade. Não alcançou o fim da linha. Desceu do bonde do sacerdócio. Virou professor e, depois, bancário.

Irmã Isabel, não. Abraçou sua vocação, com impressionante dedicação. Estava quase sempre de bom humor, satisfeita da vida, carregando sua alegria contagiante, acreditando com fervor na sua missão como freira católica apostólica romana. Irradiava felicidade e determinação no exercício das muitas funções, seja como professora ou encarregada das finanças ou diretora de colégio em Aracati, Petrolina, Gravatá, Recife, Fortaleza ou Natal. Ou em Roma, para onde viajava com razoável frequência.
Segunda feira, dia 21 de maio, irmã Isabel fez sua última viagem. Para o céu, lugar que ela acreditava seria seu destino, sem reserva de dúvida. Hoje deve estar junto a Deus, com todos os merecimentos, pela pessoa que era, pela dedicação ao próximo, razão de ser de sua longa vida terrena.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

Contato: [email protected]

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

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