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Mariana Moreira

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Desencantando sonhos

28/04/2017 às 10h12 • atualizado em 28/04/2017 às 10h13

Karl Emil Maximilian Weber foi um intelectual, jurista e economista alemão considerado um dos fundadores da Sociologia.

Submersa na burocracia que a vida moderna nos presenteia e, sobretudo, nos impõe diariamente, pulula a minha frente, com uma recorrência estonteante, as imagens cientificamente proféticas elaboradas pelo sociólogo alemão Max Weber. Ainda nos derradeiros momentos do século XIX e primeiras décadas do século XX Weber constrói as figuras da “jaula de ferro” e do “desencantamento do mundo” na análise da vida moderna.

Segundo Weber, a racionalidade, a exigência da comprovação científica, a explicação racional das coisas, a ciência como parâmetro para conceber o mundo, orientar ações e condutas e pautar sentimentos transforma, paulatinamente, a vida numa prisão cujas grades e grilhões estão além da capacidade humana de serem rompidas apenas com sonhos.
A racionalidade que exige a autenticidade das coisas além da palavra.

As versões devem sempre conferir com a original, autenticadas por autoridades legitimamente reconhecidas.
Não basta você existir. Exige-se comprovação de sua existência em certidões, registros, cédulas, fotos. Não basta a fala, sem o carimbo que a oficialize como autêntica.

Weber vaticina, assim, que esta racionalidade exacerbada desencadeia um intenso processo de burocratização da vida que, além de nos aprisionar, nos rouba a capacidade do sonho, do devaneio, da quimera, na figura que ele constrói como o “desencantamento do mundo”.

O mundo liso, plano, iluminado pelo conhecimento, pelo raciocínio, pela verdade inquestionável não deixa brechas para ilusões.

Exorcizam-se sombras, dobras, malassombros, visagens. Soterram-se rezadeiras, videntes, profetas.
Classificam-se como burlesca as simpatias, as adivinhações, as estórias de trancoso. Aprisionam-se no patamar da irrealidade as visagens que, em minha infância, se projetavam nas paredes de tijolo aparente a partir da possibilidade criada pela bruxuleante luz das lamparinas de querosene enquanto, ao lavar os pratos do jantar, chegavam, do terreiro de Impueiras, difusos sons das prosas sobre mortos que apareciam, espíritos que amedrontavam transeuntes em oiticicas e casas abandonadas.

E, no turbilhão da racionalidade moderna, soterrei os mapas mentais das botijas que, na infância, cartografei nas ribeiras de Impueiras e Cipó. Botijas fartas em moedas, jóias, possibilidades, mas também obesas de estórias e narrativas de medo, de desconhecidos, de seres sobrenaturais.

Ora, descobri que a estes mapas falta, na temporalidade do hoje racional, o timbre que lhes confere autenticidade.

E me recolho a um canto da jaula de ferro e, pelas frestas das grades espio o mundo desencarnado de sonhos.

Apenas espio!


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Mariana Moreira

Mariana Moreira

Professora Universitária e Jornalista

Contato: [email protected]

Mariana Moreira

Mariana Moreira

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