Crime organizado e ideologia na eleição
Francisco Frassales Cartaxo – Na campanha eleitoral surgiram no Brasil denúncias envolvendo candidatos com o crime organizado. Na Paraíba, houve rumores em vários lugares do interior. Na capital investigações da PF municiaram a Procuradoria Federal, a Justiça, resultando na prisão de autoridades ligadas à gestão de Cícero Lucena (PP). O delicado tema – exposto na mídia tradicional e eletrônica, em redes sociais, no guia eleitoral, em debates entre postulantes -, mexeu com o ânimo do eleitor a ponto de provocar inesperado segundo turno.
Em Cajazeiras foi diferente.
O prefeito José Aldemir (PP), com sólido capital eleitoral, acumulado em 40 anos de “serviços prestados”, como médico, deputado e prefeito, libertou-se da condição de refém de facção criminosa, readquiriu liberdade e, na undécima hora, oficializou o nome de Corrinha Delfino, sua candidata desde sempre. Tal versão foi cochichada em círculos restritos de Cajazeiras, mesas de bares e ambientes fechados. A verdade só aparecerá, penso eu, bem mais adiante, quando episódios e entendimentos se transformarem em fatos históricos e os protagonistas tiverem liberdade de iluminar sombrias negociações.
O médico Pablo Leitão, ex-secretário de Zé Aldemir, adversário da candidata oficial, filiou-se de última hora ao PSB para compor a chapa encabeçada por Chico Mendes, líder de João Azevedo na Assembleia Legislativa. Impedido pela Justiça de candidatar-se, Mendes colocou sua esposa como vice de Pablo, um entusiasta participante da campanha de Bolsonaro em Cajazeiras. Daí a dissidência aflorada no PT, com viés ideológico, sobrepondo-se aos arranjos eleitorais locais.
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Socorro Delfino derrotou Pablo por diferença de 2.381 votos, no sétimo colégio eleitoral da Paraíba, em contingente de 40.405 votantes, graças à competência de Zé Aldemir no uso do clientelismo privado e público, turbinado por “emendas parlamentares” em nome da governabilidade. Em Cajazeiras, portanto, o componente ideológico na eleição foi quase zero.
Em João Pessoa, porém, teve peso.
Lá, o antagonismo esquerda/direita aflorou, de par com o preocupante avanço do crime organizado, que este ano adota clara estratégia nacional de infiltração na máquina pública municipal para “limpar” suas engordas. Na Paraíba, as investigações chegaram aos órgãos da Justiça, efetivando-se prisões que expuseram as ligações da gestão Cícero Lucena com grupos criminosos dominantes de bairros da capital. Dos três principais concorrentes de Cícero, Rui Carneiro, Luciano Cartaxo, o maior beneficiário foi Marcelo Queiroga, que surpreendeu com 22% de votos válidos! Por quê? Ele externou, de maneira clara, sua condição de ex-ministro de Bolsonaro, conservador, autoproclamado de direita, numa cidade, onde seu chefe obteve, em 2022, 49,9 % dos votos válidos no segundo turno. Conclusão: em João Pessoa prevaleceu a componente ideológica!
Autor do livro Do bico de pena à urna eletrônica
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