Corruptos: falta o eleitor entrar em campo
Por Francisco Cartaxo
Dia desse, foi preso poderoso empresário, que opera em vários ramos de atividades no mundo inteiro e é o mais importante empreiteiro de obras públicas do Brasil. Dono de um dos maiores conglomerados de empresas atuantes dentro e fora do País, detém boa parcela dos empréstimos do BNDES. Foi preso e algemado, suspeito de integrar esquema de corrupção de autoridades públicas, políticos, partidos e doleiros. Nunca vi isso.
O leitor também não. Aliás, ninguém, por mais velho ou interessado na vida brasileira, presenciou nada igual. Da mesma forma como ninguém vira, há poucos anos, aquele desfile de ex-ministros, deputados, dirigentes de partidos políticos no poder rumo ao presídio da Papuda, em Brasília, após serem investigados, processados, julgados, condenados e apenados. Acompanhamos pela televisão imagens inusitadas de antigos guerrilheiros na companhia de banqueiros e figuras menores da cena política. O que estamos vemos hoje até parece ficção, filme de artista e bandido mostrado no cinema ou na telinha.
Então o Brasil mudou?
Ainda é cedo para dizer que sim. Faz pouco tempo, a sociedade brasileira mobilizada em torno das “diretas já” deu um passo decisivo para a consolidação da democracia, muito embora a derrota da emenda constitucional do deputado Dante de Oliveira tenha deixado enorme frustração no povo. Um descompasso terrível entre a vontade da maioria da população e o Congresso Nacional. Frustração, aliás, amenizada pela eleição de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, depois de negociação e acordo de gabinete. Pior foi a morte prematura do mineiro ilustre e a consequente ascensão de Sarney, ex-líder da Arena, o partido da ditadura.
E teve mais. Na primeira eleição direta para presidente, a escolha de Fernando Collor. Que horror! Ainda bem que foi logo afastado do cargo pela pressão de caras pintadas de traços verdes e amarelas. Tudo, porém, no estrito marco democrático. Valeu a experiência, conquanto a corrupção tenha prosperado como nunca, instalando-se firmemente no cotidiano da vida dos brasileiros, no dia a dia dos partidos, em toda parte. Nem a Petrobras respeitaram. A democracia, no entanto, avança, agora, ao impulso de novos ventos.
Então agora é diferente?
O comando do processo migra da órbita da sociedade política viciada para escalões técnicos, menos comprometidos com a roubalheira. Órgãos republicanos, fortalecidos pela Constituição de 1988, exercem hoje, com razoável autonomia, suas funções de forma articulada. Daí o cerco a delinquentes que, sem gravata, ficam de cócoras na privada em momento de reflexão solitária. Disso não escapou sequer o maior empreiteiro do Brasil.
A Justiça, a Polícia Federal, o Ministério Público, a CGU e outras entidades realizam a diferença. Até fruto de roubo já retorna aos cofres públicos. Em meio a centenas de Operações, existem algumas com apelidos singulares – como a Operação Catuaba, a Operação Andaime -, duas pequenas intervenções no sertão da Paraíba destinadas a prender corruptos. Inexpressivos, é verdade, mas corruptos tanto quanto os da Lava Jata.
Aí está o fio da meada que ainda carece de tempo e de apoio generalizado para afirmar-se como instrumento da mudança na vida política brasileira. Mas falta uma atitude fundamental: o povo sair da torcida e entrar no campo. No campo eleitoral. Mostrar cartão vermelho aos corruptos. Corruptos transitados em julgado ou não.
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