Cordel Quirinada
Felicíssima estou com a receptividade do meu primeiro cordel. Quirinada é o nome. Foi produzido especialmente para a festa da família Quirino de Moura, no finalzinho do ano passado. A festança foi uma maravilha. Senti falta dos que já se foram desse plano terrestre. Senti falta dos que, ainda bem vivos, não compareceram ao importante momento histórico. É histórico sim. Quem perdeu, pode lamentar mesmo. Não teremos mais sessenta anos de comemoração à migração dos familiares, que se encheram de coragem para sair do seu pedacinho de terra, no distrito de Melancias, em Santa Helena, rumo a Cajazeiras.
A terra de Padre Rolim, para os meus parentes da roça, era como se fosse a versão sertaneja do baú da felicidade, a porta da esperança, o show do milhão. Como eu faria uma homenagem a tudo isso, não sei, não sabia, fraquejava, a emoção batia à janela. Não foi fácil planejar, muito menos decidir. Pensei em escrever algo para o momento festivo. Escrever, escrever, escrever. Registrar à altura um ponto tão substantivo para todos nós. Não teria que ser jornalístico, para cumprir o rito factual. Teria que ser algo diferente.
O assunto é amplo, por isso já foi contado e recontado e recolorido em crônicas anteriores. Comecei por Léguas e léguas; depois, A casa do Alto Belo Horizonte. Pedi para a edição do jornal Gazeta do Alto Piranhas repetir a primeira, com fonte maior. Não queria também algo apenas técnico, um minitratado com datas para ler na festa.
Como falei para o portal Diário do Sertão, que agora também compartilha meus textos, novidade boa, aqui é meu universo, lugar de não me preocupar muito com tecnicismo. Embora eu seja condicionada a tamanho e tempo, recebo com alegria a graça de estar nesse espaço, na rota de algum olhar compartilhado, sendo visitada, lida. Recebo tanto uma reflexão crítica dos torcedores quanto uma vaia na cobrança do escanteio: não importa. O gostoso é jogar.
Resolvi, então, para a festa da família, produzir um cordel. Meu primeiro cordel. Fiz os versos pensando nas ilustrações. Imaginando os lugares, as pessoas, os bichos. Empreguei o modo que mais me inspira: o pontilhismo. Fiz cada desenho e preenchi com tinta acrílica preta. Meu irmão Christiano Moura fez brilhantemente a diagramação. Capa amarelinha, do jeito que pensei. Título com a fonte carcomida, como se quente e sertaneja, tudo a ver com o propósito da lembrança da nossa origem paterna. A Gráfica Ideal imprimiu. Que bom. De volta ao nosso amigo Cleonácio. Vejamos que tudo foi motivo de comemoração. Felicidade até com o vento.
Quanto ao poema, deixo para os analistas. Eu mesma tenho certeza que poderia ter feito muito melhor. Há uma estrofe que errei a rima, escorreguei feio. Havia pensado na palavra Maniçoba, que combinaria com sobra, mas empurrei a palavra Formigueiro. Pura desatenção de iniciante na estrada dos versos. Criatura afoita pelas capoeiras das frases. Mas, tem nada não. Fiz também pensando em declamar. Eu escrevia e lia em voz alta, para saber como era que a simbiose se processava. E até o momento da festa foi segredo a sete chaves.
De uns dias para cá, publiquei a capa nas redes sociais. Os amigos curtem, comentam, dizem sim. Sim. Dizendo que querem ler, que querem ler e guardar. Senti que serei um pedaço de mim guardado na gaveta dos outros. Lindo. Que as traças não me invadam. Que o mofo não me perturbe. Que a fome da leitura me encare. Que a saudade me abrace. A Quirinada merece mesmo rodar o mundo. Essa família ainda tem muito o que fazer e o que contar, e eu estou nessa para representar nosso sangue. Parece até que a comida já está na mesa.
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