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Cristina Moura

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Conversa telepática

21/01/2022 às 17h03

Coluna de Cristina Moura. (Imagem ilustrativa - reprodução - internet).

Por Cristina Moura

Fui surpreendida, mais uma vez, pela certeira comunicação que mantenho com meus leitores. Surpreendida porque mantenho em mim mesma, lá dentro de uma consciência racionalizada pelas hipóteses estudadas, certa dúvida de tudo. Uma centelha benigna cética. É saudável para todo e qualquer cientista o direito à dúvida nas investigações. Compreender que é apenas um ponto de vista, de um determinado assunto, que não pode ser fechado e enclausurado.

A pesquisa, caso queira alcançar a tonalidade pública, não deve temer publicidade. Que se conheça a coisa pesquisada, que o objeto pule os tantos muros das academias e se encontre com a rapaziada e a moçada do dia a dia. Que esbarre nas senhoras e nos senhores de todo respeito. Que se construa para ser lida. Que entre na conversa.

Na crônica, como reforça meu amigo Constantino Cartaxo, poeta Tantino, fazemos uma espécie de conversa. Sim. Verdade. A crônica é uma conversa, mesmo que o autor não chame o interlocutor. A conversa existe. Eu, porém, segundo as palavras do poeta, não respondo como se fosse em áudio comum. É o texto que responde, disse ele. Então, meu conterrâneo e guardião daquelas frondosas cajazeiras, estamos falando da famosa e eterna ação telepática da leitura. O gênero, de cujo formato me sirvo, é especializado nesse tipo de narrativa. Preparo, há alguns meses, um livro somente com temas relacionados a gastronomia e viagens. Não é um livro de receitas, não é um guia de turismo. É um livro de crônicas. E, para que elas, as crônicas, existam, continuo aluna da escola da leitura. Fico feliz ao encontrar novos e velhos leitores. Que presente. Leitura é voo sem fim.

É algo tão grandioso, mas tão sem medidas, digo medidas reais e matemáticas, que não cabe numa conversa. Precisa de dezenas de conversas. Precisa de centenas de textos. Precisa de milhões e milhões de caracteres. Foi da conversa interna do leitor com o objeto lido que se criou o fenômeno da leitura. Para que essas crônicas sejam lidas, dependo do desenrolar desse mesmo fenômeno, porém de maneira singularizada. Cada leitor esbanja seu mundo, sua natureza. Cada leitor, portanto, realiza sua conversa, do seu jeito, e se torna cúmplice. Uma cumplicidade pueril e fraterna e limitada às frases que cabem na página.

Há cronista que ama falar sobre a própria crônica. Eu aqui estou agora falando, problematizando um ponto, contando alguns causos e acontecimentos. Tudo isso dentro da própria crônica. Este exercício de metalinguagem é, de hora em hora, acionado pelas outras leituras e lembranças, as quais já pareciam totalmente diluídas. Não. Nunca. Numa dança de palavras, puxam-se as alavancas das ancestralidades. E vêm esses desejos de manterem-se com tempo e datas, mas em estado etéreo. Fótons, chapas, lasers. Um balão no alto para o longo sempre. Para que os quadros e quadrinhos ganhem vida. Olhares que leiam.

Não sou magistrada, Tantino, mas teço com alegria, aos bons profissionais amigos da área, uma rápida reflexão nesta crônica miscelânea de conversas. Franqueada me sinto para exercer a forma metalinguística, no início desse ano ainda muito novo. Encerro, se de toga estivesse, com duas frases incisivas na construção do modo imperativo em peças jurídicas. Sim. Daquele estilo impecável. Se é autoridade, manda. De preferência, ao final da argumentação, para coroar a ordem. E utilizando um pronome oblíquo, para refinar ainda mais o documento, com a forma reflexiva. Surgem, então, como duas tochas olímpicas, as duas frases mais do que essenciais. Surgem antes da assinatura dourada e do carimbo de néctar dos deuses daquela excelência, aquela criatura à serviço da Justiça, a serviço do próprio cidadão. Duas frases que irradiam. Duas frases que cheiram a Chanel. Duas frases que simbolizam tudo o que eu quero neste instante. Publique-se. Cumpra-se.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Cristina Moura

Cristina Moura

Jornalista e Professora cajazeirense, radicada no estado do Espírito Santo.

Contato: [email protected]

Cristina Moura

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Jornalista e Professora cajazeirense, radicada no estado do Espírito Santo.

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