Cônego Sabino Coelho e a diocese
Muito se tem falado da criação da diocese de Cajazeiras, neste ano de seu centenário. Mais ainda será escrito e comentado, também, em 2015, em reverência aos cem anos da posse do primeiro bispo, dom Moisés Coelho. Muitos fatores determinaram a escolha de Cajazeiras como sede de bispado, dentre eles a influência exercida por personagens da vida eclesiástica e política do Brasil e, em particular, da Paraíba. Documentos, registros na imprensa, textos produzidos por historiadores, jornalistas, pesquisadores e memorialistas recordam episódios relacionados com a origem de nossa diocese, a segunda a instalar-se na Paraíba. Um privilégio. Não é disso, todavia, que desejo falar. Quero realçar o papel desempenhado pelo então cônego Sabino Coelho para viabilizar a diocese de Cajazeiras.
Sabino Coelho era filho de Raimundo Sezinando Coelho e Maria Lourença da Circuncisão e neto materno de Vital de Sousa Rolim, o pai do padre Inácio de Sousa Rolim. Raimundo Sezinando Coelho era filho do tenente Sabino Coelho, cearense do vale do Jaguaribe, que se instalou em Cajazeiras e casou com uma irmã do padre Rolim. O avô e o pai de monsenhor Sabino Coelho foram políticos de grande prestígio no tempo do Império e começo da República, tendo, ambos, desempenhado funções de relevo na malha do poder àquela época. O avô, tenente Sabino (hoje nome da rua que virou calçadão), preferia ser delegado de polícia, o que não era pouca coisa, sendo um cargo imperial que enfeixava enorme poder no mando político local. O pai administrou Cajazeiras na condição de presidente do Conselho Municipal. Raimundo Sezinando Coelho integrava as hostes do Partido Liberal, controlado pelo Comandante Vital Rolim, seu tio, e pelos Couto Cartaxo, cuja figura de maior projeção foi Antônio Joaquim do Couto Cartaxo, o primeiro deputado federal de Cajazeiras.
Por que recordo tais coisas?
Para realçar que monsenhor Sabino e seu irmão mais moço, dom Moisés Coelho, eram figuras integrante do bloco familiar e político dominante em Cajazeiras. Portanto, ninguém melhor do que Sabino Coelho para cumprir a missão de viabilizar materialmente a futura diocese. A decisão de sediá-la em Cajazeiras já estava tomada, embora não oficializada. Carecia de patrimônio. Por isso dom Adauto de Miranda Henriques lhe deu, em março de 1913, a incumbência de agenciar “donativos, fundar o patrimônio da diocese de Cajazeiras.” Missão da qual o cônego Sabino cuidou com desenvoltura. Após um ano de andanças pelo sertão, o ilustre conterrâneo amealhou quase 37 contos de réis, quantia suficiente para permitir a operação inicial da diocese. Parcela de 25 contos foi a contribuição de Cajazeiras, disparada a maior, como não poderia deixar de ser. Cônego Sabino se saiu muito bem da importante e dificílima empreitada, “após onze meses de incessante labutar, sob a inclemência de um sol ardente, num percurso de 500 léguas a cavalo”, quando percorreu as freguesias que integrariam a nascente diocese de Cajazeiras, conforme suas próprias palavras, em relatório dirigido a dom Adauto.
Aquela quantia arrecadada era significativa? Sem dúvida. Mas nada comparável ao enorme patrimônio oferecido à Santa Sé, pelo padre Cícero Romão Batista, ao tentar seduzir Roma para sediar em Juazeiro a futura diocese do Cariri, por ele pleiteada, e não no Crato, como já estava decidido. Mas isso é outra história.
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