Como se fosse a primeira vez
Por Erik Figueiredo, professor da UFPB
A comédia romântica “Como Se Fosse a Primeira Vez” conta a estória do veterinário Henry Roth (Adam Sandler) e a professora de arte Lucy Whitmore (Drew Barrymore). Após um encontro casual, os dois se apaixonam, mas se veem impedidos de seguir seu romance, pois, devido a um acidente, Lucy sofre de um tipo de amnésia que a faz esquecer os eventos de cada dia após uma noite de sono. Diante disso, Henry inventa novas maneiras de encontrá-la diariamente na esperança que um dia ela retenha as memórias e sentimentos por ele.
Como em comédia de seção da tarde, as soluções desenvolvimentistas para a Paraíba surgem a cada dia, sem preservar a memória dos fracassos recentes. Como em um passe de mágica, emergem as mesmas ideias, os mesmos atores e, infelizmente para o povo paraibano, a mesma expectativa de resultados.
Só para ilustrar esse ponto, de acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Paraíba ocupava 19ª posição no ranking dos Produtos Internos Brutos (PIBs) brasileiros no início dos anos 2000. Em 2018, graças aos esforços e aos avanços defendidos pelos especialistas de plantão, o Estado continua a ocupar a 19ª posição no ranking dos Produtos Internos Brutos brasileiros.
E mais, atualmente a Paraíba contribui com menos de 1% para o PIB nacional (em verdade, 0,9%), enquanto os nossos vizinhos pernambucanos, por exemplo, contribuem com quase 3%. No Nordeste só ficamos à frente de Sergipe, Alagoas e Piauí.
Uma das razões para esse sucesso ao avesso reside na insistência em adotar a agenda preconizada pelo ilustre paraibano Celso Furtado. Ao trilhar por esse caminho, os agentes públicos e pesquisadores deixam de lado as conclusões recentes da literatura. É de conhecimento quase geral que a pesquisa relacionada à superação do subdesenvolvimento econômico é vasta (leiam revistas como Journal of Development Economics).
Os temas são diversos, transitando dos efeitos da exposição a condições climáticas extremas nos desenvolvimentos in útero e na primeira infância e seus rebatimentos na vida adulta [Cunha, Heckman e Schennach (2010, Econometrica) e Almond e Currie (2011, Journal of Labor Economics)], ao protagonismo do capital humano como motor de desenvolvimento regional (Gennaioli, La Porta, Lopez-de-Silanes e Shleifer, 2013, Quarterly Journal of Economics), passando pela análise apurada (experimental) da efetividade das políticas públicas e sociais (Duflos, 2020, American Economic Review).
Nesse vasto campo de pesquisa, há fortes evidências sobre a ineficiência do fomento estatal ao desenvolvimento regional. O foco deve se dar em ações voltadas para o indivíduo, promovendo a liberdade de mercado viabilizada pela redução dos gargalos microeconômicos. Essa agenda dialoga muito pouco com grandes obras geralmente analisadas sem a consideração de um cenário contrafactual.
Por fim, cabe ressaltar que esse breve relato deve ser entendido como um apelo para a mudança nos rumos do desenvolvimento do nosso estado e não como um ataque ao homenageado. Porém, a utilização de suas ideias como um ponto de partida para uma “nova” agenda de desenvolvimento só mostra a nossa incapacidade de reconhecer os erros e; a nossa total falta de compreensão sobre a pesquisa econômica moderna. O povo paraibano não pode interpretar o papel da Lucy Whitmore eternamente.
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