Como responder ao anônimo
A provocação deixou a cidade em polvorosa. Alguém, com minguada capacidade de uso da massa cinzenta, circula em redes sociais (essa praga moderna que justifica e legitima toda espécie de absurdo e de abuso da liberdade de expressar opiniões e posturas) sua experiência no carnaval de Cajazeiras. De maneira agressiva, fascista, preconceituosa e machista esta pessoa, cuja identidade é suspeita uma vez que a comunicação virtual abre brechas para um anonimato irresponsável e nocivo as mais sensatas regras de vivência e de convivência humana, tece comentários ferinos e desrespeitosos sobre a cidade, seus habitantes e, sobretudo, sobre as mulheres.
Essa atitude instiga e cutuca nossas reflexões sobre os limites e possibilidades das modernas tecnologias de comunicação e, sobretudo, sobre os mecanismos que devem ser viabilizados para que seu uso não se converta num território livre para agressões, humilhações, depreciações morais. Assim, o maldoso folião, ao convocar todos para curtir a folia momesca em Cajazeiras apresenta como principal argumento a facilidade em conquistar mulheres que, em sua perspectiva, se “entregam” facilmente uma vez que na cidade grande parte da população masculina é composta por homossexuais, o que deixaria contingente feminino “ávido por aventuras amorosas” e, por isso, sendo presa fácil para qualquer forasteiro que, aproveitando-se da liberalidade típica do período carnavalesco, tem que mostrar toda sua virilidade e macheza dando conta da voracidade sexual das “pobres” mulheres órfãs de “machos”.
A reação a esse tipo de provocação oscila entre a indignação tímida de quem sente seus brios nativos arranhados por um estranho que, gozando da hospitalidade cajazeirense, ao sair cospe no prato que comeu, aqueles que se arvoram em defensores da honra citadina e, arrotando bravatas e bravuras, ameaçam “acuar” o dito autor das ofensas e, de forma violenta e bárbara, mostrar a valentia e o destempero dos machos que, em considerável quantidade, não aceitam “a fama” de ser a cidade povoada por uma considerável parcela de “boiolas”.
A revelia de toda e qualquer avaliação sarcástica, o que resta deste lamentável episódio é a constatação de que estamos, cada vez mais, vulneráveis e suscetíveis ante a avalanche de engenhos e inventos que, cotidianamente, se insinuam em nossas vidas, de forma sorrateira, minando nossa capacidade de sermos indivíduos, de termos nossos segredos e mistérios, de guardamos momentos que são apenas nossos. O cenário desenhado por George Orwel em seu famoso romance “1984” não mais se situa no campo da imaginação, pois, cada dia mais, o Grande Irmão lança seus tentáculos sobre nossa intimidade, desvelando e revelando, agredindo e discriminando, acusando e difamando, opinando e deformando opiniões e posições historicamente consolidadas como saudáveis a convivência humana. E muitos ainda se perfilam ao lado daqueles que dizem que o controle social da informação é censura. Pensem nisso antes que o próximo forasteiro nos elimine de todas as rotas de civilidade.
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