Circo dos horrores
A conjuntura política brasileira, nos últimos tempos, tem produzido cenas que causariam inveja ao mais bem urdido enredo surreal ou a qualquer trama do realismo fantástico. As cenas dantescas, customizadas nos fantasiosos laboratórios da mídia, ganham as telas televisivas como verdades absolutas e irrefutáveis e vão escancarando arrogância, prepotência, abuso de poder, manipulação. Tudo com um alvo predeterminado e antecipadamente eleito: o povo, sobretudo, aquele contingente que, historicamente, foi inviabilizado pela concepção colonialista que sedimenta a cultura do preconceito, da exclusão, da violência.
Neste cenário armado com as estruturas de pequenos grupos de privilegiados e interesses elitistas os holofotes iluminam o palco onde horrores são encenados na expressão da violenta repressão policial que transforma estudantes secundaristas, sem teto, sem terra, professores em meliantes de alta periculosidade e cujo enfrentamento exige armamento pesado, gás asfixiante, prisão arbitrária. O crime: o desejo de ver uma escola plural, socialmente referenciada, laica e pensante; de ver uma terra que produza feijão, abóbora, milho, alface e dignidade; de ver um teto como manifestação de um lar onde seres humanos se abriguem em casas além de marquises, bancos e praças ao relento.
Neste cenário iluminado pelos holofotes globais leis são negligenciadas, estatutos e regimentos jurídicos são esfrangalhados e lançados ao leu sob aplauso de uma turba que venera patos e trouxas como deuses olimpianos que envergam verdades absolutas e universais. No palco pessoas e instituições são achincalhadas, risíveis, meras peças de uma trama que condena sem, julgamento, que escancaram ao público, sedento por novos atos dramáticos, pessoas e instituições sob as quais incidem apenas frágeis suspeitas, muitas das quais esmigalhadas e desmontadas com uma leitura mais cuidadosa.
São apenas invencionices criativas, embora perniciosas, dos atores que, vendo um país emergir dos subterrâneos do colonialismo e assumindo um protagonismo de nação, tanto interna quanto externamente, não aceitam perder o trono suntuosamente posto na sala principal da casa grande. Não admitem o desmoronar das paredes e murros que os separam da senzala.
E o ator central dessa trama tem uma atuação digna dos célebres seguidores da tradição shakespeariana. Ou melhor, para não desrespeitar a tradição de um teatro de talento e esmero, gestos e ações dignos de um circo dos horrores. Gestos teatralizados e antecipadamente acordados com as redes de televisão. Decisões pessoais sem nenhum respeito ao script. Cenários e figurinos montados com a anuência dos poderosos.
E quando alguém vence a miopia política e midiática e aponta: o rei está nu! o argumento mais recorrente é o de que todos tem a liberdade de agir e de se enturmar com os seus.
Ora, mudemos esse cenário. Em nome da decência e da sensatez!
Mariana Moreira
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