Carta a uma amigo
O meu amigo Otacílio Trajano que, embora pombalense, é versado nas coisas de Cajazeiras, talvez possa me desanuviar o juízo nesses primeiros dias do ano novo.
E porque peço adjutório ao meu amigo?
É que ele é entendido desses assuntos de natureza humana e de como os bicho homem consegue fazer as coisas mais complicadas do que elas são usando a desculpa de que estão simplificando o mundo.
É que cá tô eu queimando o quengo, gastando toda massa cinzenta para entender como, aqui pras bandas de Cajazeiras, nós tínhamos um teatro, que era o único da cidade, mas que funcionava bem, carecendo apenas de reparos e manutenções. Com estardalhaço, foguetório e muito alarido os governantes anunciam, há uns dois ou três anos atrás, que irão reformar a casa de espetáculo. Colocam tudo a baixo, deixam verdadeira terra arrasada e começam o serviço. Uma obra que se arrasta sem previsões de término, mas cuja inauguração sempre se anuncia quando a popularidade dos governantes, ou de seus protegidos locais, começa a despencar.
E continua a reforma.
E meus miolos esquentando para entender essa lógica de porque gastar uma considerável soma de recursos públicos para derrubar um teatro e fazer um novo, quando este poderia ser apenas restaurado e, com o restante da verba construir outro teatro na cidade.
Veja que maravilha: mantínhamos o Ica com a sua configuração original e teríamos mais uma casa de espetáculos em Cajazeiras, cidade que, embora tenha ensinado a Paraíba a ler, em momentos, não tão raros, esqueceu de aprender.
Essa mesma “ciência” vem sendo seguida pelos governantes no que tange a recuperação da “rodagem” que liga as Brs 230 e 116, passando pela cidade de Cachoeira dos Índios. A danada tava tão esburacada que ganhava, com folga, para toda tábua de pirulito. Menino, em determinados trechos era cada buraco que, em tempos de chuva, a meninada usava como açude.
Há uns dois anos atrás, com a proximidade de mais um período eleitoral os governantes mandaram máquinas, homens e equipamentos para a recuperação da rodagem. Passou a campanha eleitoral, conseguiram os votinhos necessários, mas a recuperação ficou pela metade. Então era assim: metade estrada, metade buraco. Agora, o trecho antes recuperado já começa a se deteriorar, até porque esses serviços feitos com interesses atravessados são danados para fazer furos. Os governantes novamente determinam a recuperação da estrada: e o que foi feito? Recuperou-se apenas o pedaço que era um só buraco. O outro trecho foi apenas remendado. Daqui a alguns anos, ou até mesmo, meses, esse pedaço estará reclamando novos reparos. Mas está garantida a matéria prima para a barganha e a negociata política.
Por isso, me acosto ao amigo Otacílio Trajano, já que a sabedoria que herdei lá da ribeira de Impueiras não é satisfatória para decifrar tamanhos enigmas.
Isso mais se parece com visagem e malassombro.
Aguardo resposta.
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