Carta de Arsênio Rolim Araruna
Arsênio Rolim Araruna governou Cajazeiras entre 1947 e 1951. Foi o primeiro prefeito eleito sob as regras democráticas e liberais da Constituição de 1946. Constituição formulada no clima de euforia que se seguiu ao fim da Segunda Guerra Mundial e à deposição de Getúlio Vargas. Nas eleições municipais de 1947, Arsênio Araruna e seu candidato a vice-prefeito, José Bandeira de Melo (Bizé), ambos da União Democrática Nacional (UDN), derrotaram os candidatos do Partido Social Democrático (PSD), Manuel Lacerda e Acácio Braga Rolim.
O pai de Araruna, o tenente Arsênio Heráclito de Meira Araruna, era cearense de Milagres. Ex-aluno do padre Rolim, depois de morar no Recife, voltou para Cajazeiras, instalou-se como comerciante de tecidos, casou-se com uma sobrinha do padre mestre. Na política, sempre ligado ao clã dos Rolim, foi juiz de paz, vereador e, segundo Deusdedit Leitão, a República o encontrou na presidência da câmara municipal, então equivalente ao cargo de prefeito. Teria sido ele – e não o major Higino Rolim – o último gestor cajazeirense do Império, como se deduz da leitura do interessante livro Os prefeitos de Cajazeiras, de Irismar Gomes.
Tenente Arsênio virou nome de rua.
Entre papeis antigos deixados por meu pai, encontrei carta manuscrita de Araruna. Cristiano Cartaxo era diretor intelectual do semanário Estado Novo, que circulou em Cajazeiras entre 1939 e 1944. A seguir, transcrevo aquela correspondência, com a grafia atualizada.
Catolé, 1 de março de 1942
Ontem deixei na redação do Estado Novo a minha quinta nota “Cajazeirenses que se foram”. A mesma focaliza o nome do falecido major João Bezerra de Mello. No próximo número, isto é, depois do major João Bezerra, entrará o nosso saudoso dr. Higino. Aproveitando o ensejo da ida a essa cidade de minha mulher, que vai visitar o tio Joaquim Bezerra, estou lhe enviando o original dos traços biográficos do seu honrado pai. Leia-os, corrija-os e me devolva para passar a limpo.
Ontem recebi uma carta do Rio, do nosso Hildebrando Leal, em resposta a uma minha, em que eu lhe pedia dados de dona Odília. Carta atenciosa, muito saudoso da esposa falecida e cheia de agradecimento a minha lembrança.
Ontem notei diversas pessoas interessadas pelo seu jornal. Seria interessante você alertar o Pedro Gonçalves no sentido deste procurar intensificar a difusão do jornalzinho dentro da cidade, que pode muito bem elevar-se a dezenas de assinaturas. Crispim Coelho e Vicente Barreto prometeram fazer na primeira oportunidade uma assinatura. É tempo do Pedro aproveitar a chance. Encareço-lhe falar ao Otílio para mandar os dados, que solicitei em carta, do coronel Guimarães.
Arsênio Rolim Araruna não foi apenas proprietário rural. Atuou na imprensa como redator e cronista do Estado Novo, abordando questões do campo e da cidade. Dedicou-se, também, a estudar nossas origens, realçando figuras do passado, cujos perfis esboçou em textos publicados sob o título Cajazeirenses que se foram. Consegui alguns deles. Poucos, infelizmente.
Antes de ser prefeito, foi secretário da prefeitura, quando o secretário e o tesoureiro eram, junto com o prefeito, os gestores chaves do município. Araruna ocupou ainda cargos públicos estaduais.
Dele, jamais se ouviu sequer o mais leve rumor acerca de ato de improbidade administrativa. Nem antes nem depois que o câncer o tirou desta vida. E hoje, quem põe a mão no fogo?
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