Carnaval? Não!
Por Edivan Rodrigues
Não temos o que comemorar!!! Temos, infelizmente, muito a lamentar.
Na dura e cruel realidade brasileira, os momentos para comemorar são poucos, a realidade do ano todo e de todo o ano é dessoladora “…e um dia, afinal/Tinham direito a uma alegria fugaz/Uma ofegante epidemia/Que se chamava…o carnaval” como disse outrora Chico Buarque, na música “Vai passar”.
Esse ano nem isso teremos. Foi-nos tirada também essa “alegria fugaz”, muito por força da pandemia, mas não podemos esquecer os irresponsáveis, os inconsequentes e os incompetentes que em vez de abrir caminhos, trancaram nossas esperanças. Na mesma música, Chico nos remete a fina ironia de que carnaval também é momento de bater “palmas pra ala dos barões famintos/O bloco dos napoleões retintos/E os pigmeus do bulevar”.
Lamento que não tenhamos carnaval. E é bom que não façamos. Vamos respeitar as regras sanitárias de não aglomeração, afastamento social e uso de máscaras.
Façamos nossa parte e com isso ajudamos a salvar vidas colocadas em perigo por guias cegos e inconsequentes.
Quanto a esses, como disse o poeta Ronaldo Cunha Lima, “é bem melhor conter a revolta, contar os dias e esperar a volta”.
No próximo ano teremos nosso carnaval, nossa alegria fugaz diante da realidade que nos aflige.
Fiquemos, portanto, com o carnaval virtual. Como outrora havia dito, no carnaval(mesmo que virtual) não pode faltar Moacyr Franco, com seu Turbilhão. Afinal, esse ano sopraram cinzas em nossos corações; tocaram silêncio em nossos clarins e caiu a máscara da ilusão dos pierrots e arlequins, daqueles que fizeram até agora palhaçadas e nos fizeram, também de palhaço(“desses palhaços dançando no ar”). Noutros anos, brincávamos carnaval, mesmo diante da dor – “A gente brinca, escondendo a dor”, neste, no entanto, a dor corrói, mas não há alegria fugaz sequer para brincar.
Quem em nós renasça a esperança; que nossa indignação transforme e nos faça acordar desse pesadelo, dessa situação calamitosa por nós vivenciada.
Onde perdemos nossa capacidade de dizer basta?!
Estamos a perder não somente o carnaval. Estamos a perder irmãos, amigos, brasileiros, “nessa orgia de sonho e dor”!
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