Campanhas eleitorais na pandemia
As eleições deste ano são diferentes. Por quê? Por duas razões. Primeira, existe a proibição de coligações partidárias para vereadores. Até agora, os partidos políticos podiam unir-se em uma só legenda. Este ano, não. Cada um concorre isoladamente. Assim, os partidos pequenos estão mais vulneráveis. Se a legenda não atingir determinado número de votos, perde todos os sufrágios dados a ela. Ao final da apuração, saberemos o efeito real de tal mudança nas regras eleitorais.
A pandemia faz a outra diferença.
A doença mundial introduz um ingrediente forte ao rosário de fatores acumulados ao longo dos anos às campanhas eleitorais no Brasil. Em tempos remotos, a joia das eleições eram os comícios. Até o meado do século XX, as pessoas iam às ruas para ouvir seus candidatos. Seus ídolos. O discurso ao vivo, no clima de animação coletiva, constituía a atração maior da campanha, com oradores criando famosas frases de efeito. “E o dinheiro? É fácil. É facílimo. Eu sei onde está o dinheiro!” (José Américo, 1937). Jornais e revistas, aliados ao rádio, eram os grandes meios de comunicação. No interior, a visita de casa em casa tinha vez.
Esse tempo acabou.
O rádio e a televisão, e mais recentemente a internet, tornaram o comício um troço anacrônico. Você vê e ouve seus ícones todos os dias, a qualquer hora. Não precisa abalar-se de casa. A tentativa de fazer do comício um show nasceu e prosperou. Multidões enormes foram atraídas para ver e ouvir seus artistas preferidos, e cantar e dançar ao som de sucessos musicais. O que menos o eleitor queria era escutar discurso! Chegavam a vaiar! O showmício é a descaracterização do comício. E ainda serviu para esconder a roubalheira dos contratos superfaturados. Hoje a lei impede o showmício. Em paralelo, surgiram duas formas de contato do candidato com os eleitores: a carreata, a caminhada e a passeata. Este ano estão limitadas pela covid 19.
Restam o guia eleitoral e as redes sociais.
Ambos são instrumentos limitados como forma de fazer chegar ao eleitor o perfil real do candidato. O horário eleitoral gratuito foi, na sua origem, um excelente meio. Ao contrário do que muita gente pensa, o guia eleitoral não foi criação da ditadura. Veio de antes, como uma maneira de dar oportunidade a muitos candidatos de poucos recursos financeiros e não apenas aos que compram espaços na televisão. Quando estudava na Bahia, vi e ouvi verdadeiras aulas do deputado Fernando Santana acerca de problemas nacionais. Aulas dadas ao vivo, com paneis, tabelas e gráficos. Na campanha municipal de 1963, em Cajazeiras, me encarreguei de fazer o guia eleitoral do candidato a prefeito, Raimundo Ferreira, pela DRC, quando ainda era serviço de alto-falantes. Tudo ao vivo. Neste caso, com pouco efeito prático, pois vivíamos a fase áurea das passeatas e o nascer das carreatas. Ora, para melhor escutar a Difusora, o eleitor teria que sair para a calçada ou para o meio da rua.
Mentia-se menos no guia eleitoral.
Hoje virou fantasia de marqueteiro. Produção artística. O que menos importa são propostas sérias. Os debates, com todas as limitações, ainda têm certa eficácia, desde que não traga para a televisão e o rádio a insuportável baixaria das redes sociais. Neste ambiente virtual impera a mentira deslavada, a acusação sem prova, as insinuações malévolas que envolvem a vida privada de candidatos.
E quem atira a primeira pedra?
Ora, mora também em casa de vidro!
Presidente da Academia Cajazeirense de Artes e Letras
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