Cajazeiras: o seu comércio e suas origens
Por Alexandre Costa
Há exatos cento e setenta e três anos, Cajazeiras registrou a primeira manifestação formal de ordenamento da sua economia, quando o Padre Inácio de Sousa Rolim e seu cunhado Tenente Sabino de Sousa Coelho, idealizaram e realizaram no dia 07 de agosto de 1848, a primeira feira livre da cidade. Um feito audacioso para época quinze anos antes da emancipação política quando foi elevada à categoria de vila, em 1863.
A visão futurista do Padre Rolim antevia numa feira livre através da comercialização de produtos agrícolas da região e alguns manufaturados, o lançamento das bases econômicas para o desenvolvimento de Cajazeiras, tudo isto aliado ao seu projeto de vida de evangelizar e educar os sertões, iniciado em 1843, quando fundou o colégio. A garantia dada e cumprida pelos organizadores da feira de adquirir todo o excedente não comercializado resultou no sucesso da iniciativa.
Localizada inicialmente nos arredores da atual igreja matriz Nossa Senhora de Fátima, hoje Rua Joaquim de Sousa, conhecida como a Rua da Feira Velha, até ser transferida para a Rua Padre Manoel Mariano e Praça Coração de Jesus onde permanece até os dias de hoje. A feira livre de Cajazeiras repercutiu e em pouco tempo a cidade já era um verdadeiro entreposto comercial com as principais cidades do interior das províncias do Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte.
Tinha sido dado o pontapé inicial para Cajazeiras tomar a dianteira, formar e consolidar um forte polo comercial no alto sertão. As notícias do desenvolvimento de Cajazeiras já ecoavam pelos sertões afora. O escritor e sociólogo Irineu Joffily em seu livro „‟Notas sobre a Paraíba‟‟, publicado em 1892, já fazia referências ao seu vertiginoso crescimento. O progresso a que se referia o escritor, foi calcado pelo criatório de gado, principal responsável pela primitiva ocupação do sertão e a valorização do algodão nos mercados internacionais com a guerra de secessão americana em 1861.
Cajazeiras, crescia célere com um comércio vigoroso para os padrões da época. Detentora da hegemonia do ensino e da cultura nos sertões do nordeste, tida por todos – inclusive por autoridades do ensino – como referência em ensino para o nordeste e o país, apenas um ano depois de elevada à categoria de cidade (em 1877), Cajazeiras é submetida a um terrível golpe que jogou por terra um trabalho de mais de meio século de formação da sua economia: a seca de 1877. Os efeitos foram devastadores. A falta de infraestrutura hídrica dizimou pessoas e rebanhos; o Padre Rolim fechou as portas do seu colégio; a economia é estagnada e só dá sinais de revitalização no início do próximo século.
Cajazeiras entra no século XX sob égide da civilização do couro. O criatório prosperava e se consolidava como as demais cidades sertanejas. A pecuária no sertão tornou-se complementar à economia do litoral. Fornecíamos carne fresca, couro e “sola”, produtos que por muito tempo fizeram parte da pauta das exportações paraibanas.
Logo no início da década de 20 o comércio dispara recebendo uma volumosa e violenta injeção de recursos provenientes das construções de três barragens, Boqueirão de Piranhas, São Gonçalo e Pilões. Cajazeiras já dispunha de todas as pré-condições para se tornar uma das mais prósperas e pujantes cidades do interior do nordeste, quando ficou fora do traçado da rede ferroviária Cearense RVC.
Na esteira do desenvolvimento da indústria algodoeira surgiram empreendimento dos mais diversos ramos que prosperavam rapidamente. O setor de automóveis foi um deles, liderado por Júlio Barbosa & Cia da agência Ford, que tinha como poderoso concorrente, José Lira Campos, da representação da General Motors. A Ford passa para a firma Costa & Assis de Tota e Zé Assis que logo em seguida assumem a Volkswagen do Brasil. Posteriormente chega a Willys Overland do brasil, com José Cavalcanti Silva. A rotatividade nas representações automotivas foi e ainda é muito grande. Ainda hoje o mercado de automóveis continua aquecido com seis concessionárias autorizadas e mais de vinte lojas de carros usados.
Merece registro a iniciativa audaciosa do empresário José Lira Campos de construir em 1936 o EDIFÍCIO OK o primeiro “shopping” dos sertões. Uma super estrutura constituída de Cine Teatro (ÉDEN), clube social, bomboniere, sorveteria, salão de bilhar e até fábrica de gelo. Um marco na história dos empreendedores cajazeirenses.
Já no início da segunda metade do século passado, Cajazeiras detinha comerciantes de expressão na Paraíba e em estados vizinhos. Nomes que a ferro e fogo fizeram o comércio de Cajazeiras: Timóteo Pereira, Galdino Pires, José Tavares, Luís Paulo Silva, Antônio Mendes, Carlos Paulino, Gineto Pires, Donato Pereira, Francisco Arcanjo de Albuquerque, Waldemar Matias, Francisco Gonçalves Sobrinho, (Major Chiquinho), Antônio Rolim, Leopoldo Pinheiro, Antônio Dutra, Antônio Carvalho, Solidônio Jácome, Midú Cartaxo, J. Epaminondas Braga, Ulisses Mota, Moisés e João Augusto Braga, Severino Cordeiro e tantos outros que com obstinação, resiliência e muito trabalho moldaram ontem a pujante Cajazeiras de hoje.
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