Cajazeiras: a cidade do nim?
Esta semana estive em Cajazeiras para cuidar da homenagem que filhos e netos prestarão a Cristiano Cartaxo. Em caminhada matinal pelo centro e bairros próximos, em giro de automóvel pelas áreas de expansão urbana, me impressionou a quantidade de pés de nim existentes na cidade. Desde pequenos fios recém-plantados até árvores adultas, grandes e frondosas. O nim predomina em todos os recantos da cidade. Alguns já altos e espaçosos. Outros, podados à moda fícus benjamin, em particular onde a fiação elétrica e telefônica impede sua expansão, os galhos verdes e buliçosos ao vento. Não tardará a surgir um gaiato a chamar Cajazeiras de cidade do nim!
Ignoro como o nim chegou ao Brasil.
Planta nativa da Índia, aportou no Nordeste com fama de repelente. Espanta muriçoca, diziam. E mais, a árvore é quase milagrosa, propalavam, tantos eram os benefícios apregoados de suas aplicações medicinais. O nim fez adeptos fanáticos. Ouvi amigo dissertar acerca de suas bondades como fazem camelôs de feira livre na venda de óleo de peixe que tudo cura, até mal olhado… A sombra que o nim projeta e o verde de suas folhas o ano todo deixam nossas xerófilas humilhadas na exposição de galhos secos, meses a fio.
Cuidado, o nim afugenta as abelhas.
O nim cresce com rapidez invejável e adaptou-se com facilidade às condições de clima e solo nordestinos, como prova sua disseminação em vários estados. Mas nem tudo são flores. Os espinhos começam a aparecer. O nim espanta nossas abelhas, dizem. Isso é grave. Se comprovado, esse lado nocivo poderá trazer sérios problemas de ordem econômica e social.
A proliferação dessa planta em nosso meio se deu de forma espontânea. Assim parece. Talvez em reação a isso, a prefeitura de Cajazeiras anuncia uma campanha de reforço à arborização da cidade. Mais uma, aliás. Agora seria dedicada a disseminar, sobretudo, o plantio de cajazeiras e tamarindo. Merece aplauso a iniciativa, desde que seja observada a recomendação dos especialistas de respeitar a maior diversificação possível de espécies adequadas à presença em ruas e praças. Como não sou do ramo, não darei outro palpite. Fico no registro histórico, deixando de lado a obviedade de plantar-se cajazeira, árvore-símbolo da cidade.
E tamarindo?
O apego de Cajazeiras a tamarindo vem de longe. Padre Inácio Rolim, diz a tradição oral, recomendava seu cultivo mercê das qualidades medicinais, folhas e frutos usados para curar ou minorar doenças do aparelho digestivo. O chá de tamarindo é poderoso inimigo da prisão de ventre, ensinava o padre mestre. Dessas preocupações dos primeiros habitantes de Cajazeiras ficou a preferência pelo cultivo da planta. A “Rua da Tamarina” ainda hoje é referenciada, usada em lugar da rua Coronel Guimarães, nominada para homenagear o português José Ferreira da Silva Guimarães, que chegou aqui no século XIX.
Outra marca do tempo antigo está em velhos tamarineiros resistentes aos anos. Alguns, plantados quando Cajazeiras não passava de bucólico aglomerado urbano – mais próximo dos costumes rurais -, dominada por fazendas de gado e pela lavoura do algodão. Nada parecido com o burburinho urbano de nossos dias, protagonizado pelo barulho de carros e motos num vai-e-vem interminável.
Um alerta à secretaria municipal do meio ambiente: cajazeira tem época própria para o plantio, imposta pela natureza. Desrespeitá-la é perder tempo e jogar dinheiro fora.
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