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Francisco Cartaxo

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Boi voador de Bolsonaro

15/10/2022 às 09h13 • atualizado em 15/10/2022 às 09h19

Coluna de Francisco Frassales Cartaxo - Foto: Evaristo Sá/AFP

Por Francisco Frassales Cartaxo

O Guia Eleitoral me fez lembrar da história do boi voador. Não se trata de lenda, criada pela imaginação dos antigos, e repassada de geração a geração até nossos dias. Ao contrário, é verdade histórica, nascida da criatividade de Maurício de Nassau ou de inteligente chalaça. O fato é narrado em livro de 1644 por Frei Manuel Calado. Os holandeses dominavam um pedaço do Brasil, onde os portugueses já desenvolviam a cultura da cana-de-açúcar, valorizado produto no mercado. Nassau chegou aqui em 1637, contratado pela Companhia das Índias Ocidentais para consolidar a conquista. Se houve bem e é considerado um grande administrador, responsável por muitas realizações materiais, como a primeira grande ponte do Brasil.

Aqui entra o boi voador.

Nassau construiu fortes, trouxe escravos, organizou a área urbana da acanhada Recife, então um pequeno amontoado de casas na embocadura de rios. Ajudado por cientistas e técnicos decidiu fazer uma ponte entre duas ilhas. Começaram com pilastras de pedras nas partes mais fundas do Capiberibe e, depois de muita reclamação da Companhia da Índias Ocidentais, em virtude dos gastos e do atraso, resolveu concluir a obra com seus próprios recursos, usando toras gigantes de madeira. Pronta para inauguração, teve a ideia de atrair o povo para a festa e amealhar votos. Votos? Desculpa, florins, a moeda da época, para cobrir parte dos gastos.

Anunciaram que um boi iria voar.

Para atravessar a ponte, maior obra de engenharia do mundo, todos teriam que pagar uns trocados, variando o preço de acordo com o status social: de escravos aos “homens bons”, como eram chamados os ricos. Pintou gente de todos os cantos, até de engenhos distantes. Eis que de repente, a multidão enxerga um boi na janela mais alta de um sobrado. Aparece e se esconde. Minutos depois, o boi começa a atravessar o rio Capiberibe. Em silêncio, com o olhar fixo naquela marmota, o povo logo descobriu um boi empalhado suspenso numa corda sob o impulso de uma roldana… Gargalhada geral explodiu no céu do Recife!

E Bolsonaro onde entra nessa história?

Eis que de repente, Bolsonaro surge no Rio São Francisco, num jet-ski, anunciando: nordestinos, eu trouxe a água, porra, para matar a sede de vocês!

– Oxente, e boi avoa? Foi tu que fez? Arre-égua, tu tá é de miolo mole!

Do Maranhão à Bahia se escutou, então, uníssona gargalhada, que antecipa o dia 30 de outubro de 2022.

Autor do livro, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

Contato: [email protected]

Francisco Cartaxo

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Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

Contato: [email protected]

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