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Francisco Cartaxo

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Biruta do aeroporto e o presidente da República

04/07/2022 às 17h22

Coluna de Francisco Frassales Cartaxo - (Foto: Pixabay e Reprodução)

Por Francisco Frassales Cartaxo

Naquele tempo a gente chamava de campo de aviação. A pista era de barro batido, a poeira cobria tudo na hora da decolagem. Um Deus nos acuda. Tinha o nome de Antônio Tomaz, o pioneiro dono do teco-teco e do próprio campo, assim eu pensava. Um gigante. Ora, possuir uma rural, um jeep ou carro de passeio era privilégio de poucos. Na década de 1950, Cajazeiras não tinha vinte mil habitantes na sede do município. Mesmo assim, todos os dias descia e subia um Douglas DC 3, famosa aeronave, construída depois de 1930 e muito utilizada para transporte de soldados na Segunda Guerra Mundial. Depois foi adaptada para voos comerciais, em linhas aéreas nacionais aqui e lá fora.

Quando fui pela primeira vez ao campo de aviação, situado onde hoje é a agrovila, um pano voante pregado num poste de madeira atraiu meus olhos de criança. Parecia um saco de estopa, comprido e redondo, que ficava pra-lá-e-pra-cá, girando ao sabor do vento. Ou meio murcho quando o vento parava de sobrar.

– Serve pra quê?

Para indicar a direção do vento, explicou meu pai, e para guiar o piloto na hora do avião descer. Guardei na memória aquela bandeira pendurada no pau-de-sebo.

Mas emoção grande foi quando se espalhou a notícia de que o avião estava quebrado no campo. Não contamos conversa, largamos a bola de meia e nos mandamos para o campo de aviação. O sol quente de duas horas da tarde não inibiu a correria pelas ruas de barro e veredas de mato rasteiro. Que alumbramento! Aquele pássaro voador se agigantou na visão de perto, cada um de nós se chegando, se chegando… o coração pulando no peito. Alegria maior veio com o convite:

– Querem ver por dentro?

Ora se a gente queria! E fomos entrando, o coração tum-tum-tum, o olhar pousando em tudo que víamos no corredor inclinado daquele bicho voador, até a cabine do piloto, então desvendada pelo magote de moleques cajazeirenses. E o cheiro? Parecia coisa do outro mundo. Até ali, a gente só conhecia pela imaginação de matuto, orgulhoso de ver no céu o DC 3 do consórcio Aeronorte/Aerovias/Real, e, finalmente, VARIG, que encampou todas aquelas pequenas companhias aéreas. A alegria foi completa. O comissário de bordo deu a cada um de nós uma caixinha de papelão com um sanduiche de queijo e outro de presunto… Foram anos de recordações!

– E a biruta?

Ah, sim… está lá, sem rumo certo, girando pra-lá-e-pra-cá, longe do povo, feito o presidente da República.

Presidente da Academia Cajazeirense de Artes e Letras


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

Contato: [email protected]

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Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

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