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Cristina Moura

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Belo Navio

30/12/2021 às 19h24

Coluna de Cristina Moura . (Imagem ilustrativa - reprodução/internet).

Por Cristina Moura

Num alegre reencontro com a amiga Socorro Lacerda, que lecionou Física durante alguns anos na Escola Estadual Professor Crispim Coelho, o querido e grande Colégio Estadual, chegamos a algumas conclusões sobre o exercício da sala de aula. Dona Socorro, que tem muito mais a ensinar sobre a vida docente do que eu, concordou quando eu disse que todo professor é um sonhador. Todo mestre do ensino, a bordo de um belo navio encantado, sonha em transmitir a todos os tripulantes tudo o que aprendeu. Os tripulantes são os nossos amados filhos adotivos. Todo o cuidado do mundo é muito pouco.

Bate o sinal. Bate a consciência. Todo sonhador professor, que se diz comandante do barco, acredita sempre que o conteúdo que carrega é amor em frases e fórmulas, em parágrafos e normas, em mapas e gráficos, em datas e números, em porções de paciência com o outro e com si mesmo. Todo professor, o sonhador campeão de audiência, quer ver seus tantos filhos saudáveis e felizes, encaminhados para a dura jornada, protegidos das turbulências. E os sonhadores admitem que são todos missionários.

De repente, num dia qualquer, para quebrar o gelo interno, chega um aluno ou uma aluna e me chama de professora. O dia, então, está ganho, somente com esse codinome. Professora. Por meio dessa senha, o dia clareia. Na realidade, é um título que jamais será retirado pelo destino ou eliminado da memória de quem o utilizou como receptor do conhecimento.

Professora. Quando escuto, me derreto. Ao mesmo tempo, me coloco no lugar, me recomponho. Presto atenção em mim, vejo se há algo urgente a consertar. Sim, claro. É que essa medalha de sonhadora passa pelo exemplo, pelo espelho, pela salvação. Esse sonho é um trabalho capaz de salvar um coração perturbado, uma cabeça desesperada, uma turma desestruturada, até mesmo uma família à beira do precipício. A luta é, então, diária e pacífica, emendada a uma cantiga que não cessa. O pensamento é constante, constante. Quantas vezes, como aluna, fui salva.

Mais ainda, falou a amiga, e eu rubriquei embaixo, é enorme a emoção quando encontramos um ex-tripulante bem-encaminhado profissionalmente. Ficamos com aquela digna sensação de que contribuímos de alguma maneira. Ficamos com aquela certeza de que ao menos um tijolo da construção foi nosso. Mesmo que aconteça uma reforma na construção, não há como retirar a marquise do imaginário, aquele carinho que não conseguimos materializar, assim, como se fosse um pedaço de pano. É algo que não se mede.

Falei em outras crônicas e não me canso de repetir: tenho muito o que agradecer aos meus professores. Cada um do seu jeito, com seu perfil, com seu talento e sua graça. Todo mérito que ganho, de qualquer tamanho ou volume, divido com todos eles. Mas, todas as palavras que digo e escrevo não chegam ao rastro do que os mestres representam, de fato. Sinto na pele. O máximo que cada professor proporcionou, à medida que conseguiu, no seu contexto, no seu esforço e na sua benevolência, com seu ensino, foi um presente. Minha eterna gratidão. Hora do recreio.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Cristina Moura

Cristina Moura

Jornalista e Professora cajazeirense, radicada no estado do Espírito Santo.

Contato: [email protected]

Cristina Moura

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Jornalista e Professora cajazeirense, radicada no estado do Espírito Santo.

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