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Francisco Cartaxo

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Bairrismo nordestino e a eleição

17/09/2018 às 08h11

Rádio Dragão do Mar, a emissora do Ceará que o mundo escuta. Era assim que se identificava a nova estação de rádio de Fortaleza, um contraponto ufanista ao Rádio Jornal do Comércio: Pernambuco falando para o mundo, a voz mais potente do Brasil. Tudo impregnado de orgulho e bairrismo. Uma coisa é falar para o mundo. Outra, muito mais forte, é ser escutado pelo mundo!

A Rádio Dragão do Mar foi inaugurada em 1958 para servir ao Partido Social Democrático, o velho PSD, que amargava as agruras de ser oposição à UDN dos Távora e dos Saboia. Com esse nome simbólico, a Dragão do Mar nasceu da articulação dos chefes do PSD, tanto que o capital da empresa foi formado pela compra de ações por parte dos correligionários do interior. E a primeira tarefa da Dragão foi fazer a campanha, vitoriosa, do candidato a governador da coligação PSD/PTB, Parsifal Barroso, católico praticante, professor, ex-ministro de Getúlio Vargas.

Eu cursava o ensino médio, em Fortaleza. Passados tantos anos, ainda guardo na memória este bordão: meu avô já dizia, havendo outro não vote em Távora! Referência ao coronel, reformado, do Exército, Virgílio Távora, sobrinho do herói da revolução de 30, general Juarez Távora. O rádio era, então, o grande meio de comunicação de massa. E a Dragão, com transmissores de onda tropical de 20 quilowatts, chegava a todos os rincões com mais nitidez do que as concorrentes: Ceará Rádio Clube e Rádio Iracema de Fortaleza. A equipe, com incrível entusiasmo, logo fez da Dragão do Mar o mais poderoso veículo de propagação da luta contra o governo udenista de Paulo Sarasate, afinal, desalojado do poder, naquele longínquo 1958.

Residi em Fortaleza três vezes. Primeiro, como estudante, depois, já nas décadas de 1970 e 1980, como funcionário do Banco do Nordeste, com intervalo de quatro anos, quando fui morar em João Pessoa, cedido ao governo de Ivan Bichara Sobreira. Dois dos meus quatro filhos nasceram em Fortaleza. Por tudo isso, me sinto meio cearense, embora olhe com desconfiança a exaltação ufanista que o cearense carrega aonde vá. A propósito, quando o IBGE revelou os dados preliminares do censo demográfico de 1970, o jornal O Povo divulgou em manchete o que lhe pareceu mais importante: Fortaleza é a quinta cidade mais populosa do Brasil. E logo abaixo, em letras menores, tascou esta pérola: maior do que Recife. Não estou inventando. Conservei entre meus papéis velhos o recorte do jornal, hoje perdido, creio, nas arrumações feitas aqui em casa.

Por que divido com o leitor estas recordações?

Porque tenho falado com frequência, pelo telefone, com um empresário cearense, amigo meu. No passado, ele era um irrequieto professor de cursinho, depois, virou ousado fundador de colégios, além de autor de muitos livros didáticos. Somos amigos, desde quando ele era um rebelde universitário, na Bahia, e eu um jovem bacharel em direito. Vez por outra, a gente conversa como se nunca tivesse deixado de fazê-lo.  Semana passada, sob o impacto da facada no Bolsonaro, capitão, reformado, do Exército, ele ligou. Mostrou-se apreensivo, especulou. No final, me perguntou:

– Macho velho, você já leu a Cartilha do SPC, de Ciro Gomes?

– Claro.

– É ideia genial, simples e prática, vai seduzir muita gente encalacrada.

– E isso basta?

– Basta para atrair eleitores em todos os lugares. Agora, para enfrentar o Bolsonaro no segundo turno, só mesmo o doidinho de Sobral…

Disse e gargalhou.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

Contato: [email protected]

Francisco Cartaxo

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Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

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