As histórias do teatro em Cajazeiras

Por: Saulo Pericles Brocos Pires Ferreira – Meus caros: fui convidado e proferi discurso sobre os 40 anos de funcionamento do teatro que leva o nome de minha mãe. Proferi um pequeno discurso, para não ofuscar a grandiosidade do evento tão bem elaborado e que ainda está se desenrolando. Então, como resumi muito naquela oratória, vou fazer algumas complementações que acho adequadas para não passar em branco. Nossas artes cênicas eram praticadas em locais improvisados, como muito bem o disse o meu colega de vizinho na posse da ACAL, Eliézer Rolim, que deixou uma enorme lacuna na nossa academia, e fazia suas apresentações em casa, em troca de papéis de cigarros, e era um milionário com esse tipo de moeda alternativa.
Os outros grupos de teatro do tempo de Ica que eram o Metac e depois o Grutac, também ensaiavam suas peças em locais pouco adequados. A peça “A Incelença” dirigida por minha mãe, que eu conhecia todas as falas de todos os personagens, era ensaiada no prédio da então Ação Católica, cedida pela diocese, outros grupos tinham ainda mais dificuldades de encontrar espaço para fazer seus ensaios. Sobre essa peça em particular, um dos maiores atores dirigidos por minha mãe, Geraldo Ludgero, de vez em quando chegava para mim e dizia: “Pepé, hoje eu vou fazer uma farra, e você me substitui” e eu fazia seu papel no ensaio, e quando outro faltava, eu fazia seu papel. Assim foi e a peça foi um sucesso. Mas eu nunca me interessei, como todo filho rebelde que se preze, a praticar a gesticulação e fazer as expressões faciais de um ator, justamente por conta da China, onde todo grande ator deve representar “Mao”. Essa coisa de representar para mim, nunca me interessou. No filme de Marcos Luiz e Ubiratan, “O crime e os outros crimes”, onde meu pai (Dr. Waldemar Pires, um médico de uma educação finíssima e extrema bondade) interpreta um coronel que manda degolar o protagonista, quando ele faz o gesto de passar o dedo no pescoço para indicar quem vai ser assassinado, ao invés de causar temor, a cena é hilária de tão falsa…
O próprio e maravilhoso, tanto como colega de turma, amigo, e conhecido ator premiado várias vezes, Buda Lira, numa cena de um de seus numerosos filmes, quando ele demite e expulsa seus antigos moradores, pelo menos para mim, o faz carinhosamente. Mas isso, naturalmente eu posso confundir os cinquenta anos de convivência e de saber de seu imenso coração.
Tem a turma mais nova, que eu somente tive um contato maior com Soia, e Eliéser, que se desenvolveram nessa área e estão a fazer suas carreiras, mas eu que estive recentemente com Bertrand Lira, eles me conhecem mais da fama, e essa nunca é a realidade. E naturalmente Lúcio Vilar, irmão de um colega que se integrou a nós durante um tempo em que passou em Cajazeiras e hoje faz o maior evento de artes audiovisuais de nosso estado, e Gutemberg, que andou “em passant” pelas artes cênicas, mas o forte dele sempre foi o jornalismo.
Tenho que fazer referência ao parente mais próximo que também era um grande amigo em todos os tempos, Roberto Lira Cartaxo, que foi ator, diretor de peças teatrais, diretor de teatro, e um grande ator no teatro da vida, e nos deixou recentemente (menos de dois anos), vivendo do jeito que quis. Sem dar razão aos conselhos dos médicos. Como Darcy Ribeiro, que se não tivesse deixado o leito da UTI, nós não seriamos premiados com seu livro “O povo brasileiro”, uma obra prima de suma importância para se conhecer como somos e pensamos.
Ontem o Teatro levou a peça Beiço de estrada, “Master pieçe” de Eliéser, que ele levou às telas, Interessante: na última vez em que nos encontramos Eliéser falou que seu sonho era levar às telas a vida de Ica, mas infelizmente a COVID o interrompeu de realizar esse sonho…
João Pessoa, 24 de janeiro de 2024.
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