Apontamentos manuscritos de Deusdedit Leitão
Por Francisco Frassales Cartaxo – Deusdedit Leitão (1921-2010) tinha o hábito de anotar dados extraídos de batistérios, certidões de casamentos, leis, decretos, jornais e outras fontes históricas. Costume cultivado desde jovem. No tempo d’eu menino, presenciei em Cajazeiras longas conversas dele com meu pai, embora pouco entendesse. Espantava-me a satisfação dos dois, comentando nomes de pessoas, lugares, datas, episódios. Isso muito me influenciou.
Nosso aplicado pesquisador consertou erros do padre Heliodoro Pires, cometidos na pressa de publicar o perfil biográfico do padre Inácio de Sousa Rolim. Entusiasmado com a notável dedicação do sacerdote – que preferiu embrenhar-se nos confins do interior, preparando jovens sertanejos para ascender à elite eclesiástica e política no século 19 -, Heliodoro derrapou feio. Isso estimulou Deusdedit a escrever o seu livro mais importante para a história de Cajazeiras. Assim apagou “pecados” históricos cometidos pelo jovem secretário do bispo, dom Moisés Coelho, ao confiar em precárias fontes orais, escrevendo “em cima da perna”, como ele mesmo reconheceu.
Por que trago este assunto à baila?
Existem razões de sobra para voltar ao tema. Após ler o Poder local e ditadura militar: o governo João Agripino (1965-1971), de Monique Cittadino, professora da UFPB, constatei mais uma vez a importância dos Apontamentos manuscritos sobre os municípios paraibanos do historiador Deusdedit Leitão, como a autora os referencia na bibliografia da tese de doutoramento em História Econômica (USP). Não me contive. Quis confirmar com ela. A resposta veio rápida:
– Sim. Usei os “cadernos” de Deusdedit. Magníficos. E foi ele próprio que me emprestou. Daria a vida para saber onde estão. Se eles tiverem sido preservados, seria maravilhosa a publicação!
Algo parecido também aconteceu comigo, anos depois, quando preparava o livro Do bico de pena à urna eletrônica. Lembro que fomos, Deusdedit e eu, a uma loja perto da casa dele para xerocar anotações que me foram de extrema utilidade, selecionadas por ele mesmo. Havia muitos outros cadernos de apontamentos, na letra miúda, legível do obstinado pesquisador. Naquela ocasião, por volta de 2005, diante de sua fragilidade, já sem disposição para escrever novas obras, Deusdedit me confessou sua preocupação com o destino de seus cadernos, de jornais, revistas e livros.
Afinal, onde estão os apontamentos manuscritos de Deusdedit Leitão?
Presidente da Academia Cajazeirense de Artes e Letras
Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.
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