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Mariana Moreira

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Aos mestres, com carinho

21/02/2025 às 17h17

Imagem ilustrativa - reprodução/internet

Por Mariana Moreira – Uma das primeiras lições do professor Luís Custódio, nas aulas do Curso de Comunicação Social, era a indicação da leitura do Livro “Notícia, um produto a venda: jornalismo na sociedade urbana e industrial”, de Cremilda Medina. E como a leitura e discussão deste livro, em sala de aula, foram decisivas na minha formação acadêmica, proporcionando o conhecimento de como, na modernidade, a produção e veiculação de notícias, pelos mais diversos veículos de comunicação, são apenas mercadorias processadas nas engrenagens dos modernos veículos de comunicação.

No exercício da profissão, após a conclusão do curso, como repórter, vivenciei, em sua completude, os ensinamentos de Cremilda e as aulas do Professor Luís Custódio. No cotidiano de uma redação de emissora de rádio e de uma sucursal de jornal compreendi como minha atividade era semelhante à do vendedor de cachorro quente, na lanchonete, do balconista, na loja de tecidos, do caixa, no supermercado. Cumpria somente uma pauta pré estabelecida e, usando a capacidade de articular letras, palavras e textos, escrevia uma notícia que, não estando dentro dos padrões comerciais estabelecidos pela Editoria, era “naturalmente” descartada com o singelo argumento de não se adequar as normas editoriais da empresa.

E, nesse exercício cotidiano, inspirada em Medina e Custódio, fui despindo-me da visão romântica do jornalista como o “herói de capa e espada” detentor da capacidade de produzir e divulgar a verdade dos fatos e acontecimentos em sua integralidade e imparcialidade. Me via e via a tantos colegas somente e apenas como operários/trabalhadores desta indústria cultural que transforma o cotidiano em mercadorias expostas em bancas de jornais e veiculadas em emissoras de rádio e televisão. Todas elas envoltas na reluzente embalagem da “verdade”, da “imparcialidade”, da “notícia em sua dimensão total da realidade”.

Essa compreensão de ser, somente e apenas, uma operária da comunicação se consolida com a filiação ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais. Nesse espaço, na militância de Carlos Cesar e, sobretudo, de Land Seixas, me escoro e compreendo que a sedução do “glamour” de verdade vendida como inerente a atividade do jornalista é apenas uma máscara para disfarçar sua verdadeira natureza. Qual seja, um produto a venda nas gôndolas e prateleiras da indústria da comunicação por ele pagando que tem capital para financiar o mercado e aliciar mentes e corações.

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Nestes últimos dias, quando quase que, simultaneamente, me chega a notícia da morte do professor Luís Custódio e do jornalista Land Seixas, me invade um sentimento de gratidão e reconhecimento por suas posturas e atitudes, em suas respectivas áreas de atuação, e que nutriram em mim a consciência e a clareza de que, ser jornalista é, apenas e somente, um operário do fazer notícia. Compreender isso significou, para mim, e pode significar, para tantos outros, caminhos de dignidade e disposição de mudar condições de trabalho e de humanidade.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Mariana Moreira

Mariana Moreira

Professora Universitária e Jornalista

Contato: altopiranhas@uol.com.br
Mariana Moreira

Mariana Moreira

Professora Universitária e Jornalista

Contato: altopiranhas@uol.com.br

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