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Cristina Moura

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Angola

04/02/2022 às 17h09

Coluna de Cristina Moura. (Imagem ilustrativa - reprodução/internet).

Por Cristina Moura

Comecei a gostar de Chico Buarque de Hollanda sendo obrigada a estudar paroxítonas. Que obrigação dócil. Foi com a canção Mulheres de Atenas. Não bastava somente encontrar as palavras com as penúltimas sílabas tônicas. Tínhamos que descobrir quem eram essas gregas, que não tinham gosto ou vontade. Como eram essas Helenas, que não tinham sonhos, só presságios. Tecíamos, com elas, aqueles longos bordados, esperando nossos heróis.

Muitas canções de Chico me acompanham em tarefas de sala de aula. A obra dele tem quilômetros de assunto para problemas e soluções morfológicas, sintáticas ou semânticas. Em Morena de Angola, se tiver sambista no recinto, é hora de praticar. Tem menina e menino que é artista, há muito tempo. Canta, toca pandeiro, toca agogô, atabaque, tamborim, repique, tantan, timbal, reco-reco, violão, bandolim, cavaquinho, chocalho.

Chocalho. Um ótimo personagem. A canção, misto de samba e outros ritmos do batuque, vai brincando com a gente. Expõe a imitação do barulho do chocalho, que se destaca em quase todas as frases. Tudo por causa da sonoridade de um encontro de duas consoantes: c, h. É o mesmo som da letra xis, com o verbo mexer. E o autor diz: o chocalho é que mexe com ela. Esse sanduíche orgânico de figuras de linguagens merece outra crônica.

Em termos pedagógicos, o chiado está garantido no espetáculo. Temos equipes montadas para todas as seções. O andamento das atividades deve ser animado, envolvente, sem chatice. Cada participante deve ficar no setor que mais sinta afinidade, com as equipes que tenham mais a ver com a sua sociabilidade. Aprende-se de maneira mais confortável e segura. Estou falando pelos meus. Oriento e me divirto também; aprendo e aprendo.

Se a morena é da Angola, vamos à História, saber de que maneira o povo angolano foi colonizado. Povo, inclusive, participante da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), portanto nosso irmão de idioma, com ricas particularidades geradas por dezenas de etnias. Povo que está nas entranhas do nosso país, pois é multiplicado ou miscigenado ao longo dos últimos trezentos anos, nos quatro cantos do mapa.

Vamos também à Geografia, compreender que tipo de nação é a República de Angola. Podemos investigar como ocorre a interação com outros países da África e quais são as heranças políticas desse jovem lugar banhado pelo belo Atlântico. Vamos à Sociologia, investigar de que forma as classes sociais são distribuídas. Cabe-nos buscar a Filosofia, com seus questionamentos tão atuais. Há diversas possibilidades. Vamos falar sobre a arte angolana: pintura, literatura, dança, poesia, música. Vamos falar sobre a importância do esporte para aquele povo. Algumas ideias brotam para uma gincana.

Teremos guias em inglês e espanhol. Ideias brotam para outras disciplinas, como na Matemática, com seu trampolim a nos lançar ao mundo dos desafios lógicos, e podemos textualizá-los por meio de fábulas inspiradas na cultura angolana. Nossa parceira Estatística está pronta para auxiliar com dados, gráficos e porcentagens. Deliciosas operações.

Toda a festa é supervisionada pelo corpo de jurados, composto por colegas professores, pedagogos, outros funcionários e convidados da escola. Temos direito de aplaudir um desfile da moda inspirada na costa oeste do continente africano. Não vamos esquecer, claro, os criativos quiosques com suas comidas típicas. Cabe sorteio, cabe campanha beneficente. E tem roda de capoeira. Tem. Tem sim. Salve. Salve, capoeira.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Cristina Moura

Cristina Moura

Jornalista e Professora cajazeirense, radicada no estado do Espírito Santo.

Contato: [email protected]

Cristina Moura

Cristina Moura

Jornalista e Professora cajazeirense, radicada no estado do Espírito Santo.

Contato: [email protected]

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