Andando na cidade pelas ruas do passado
Por José Antonio
Esta semana resolvi fazer uma caminhada pelas ruas da cidade e visitar alguns locais que frequentava nos meus tempos de adolescente. Coisa mesmo de quem precisava se afastar do corriqueiro, do lugar comum e do cotidiano que muitas vezes a vida nos impõe.
Passei pela Praça Coração de Jesus, conhecida também por Praça dos Carros e vi que ali não existe mais o velho “trapiá” que fazia sombra para os motoristas dos jipes, que eram alugados para as corridas das madames e dos boêmios que frequentavam o baixo meretrício da estrada de Jatobá; Entrei no velho mercado público, construído por Arsênio Rolim Araruna, em 1950, para beber caldo de cana, que em outras eras era chamado de “garapa” e vi que ali já não existe mais a barraca de Dona Conceição onde se comprava banana maçã, casca verde e babona trazidas dos sítios do município.
Passei pela Praça Presidente João Pessoa e não encontrei mais a sorveteria de Chatô que fabricava o famoso picolé “doce e gelado” de essências de frutas nem o “refresco” de morango; não encontrei os cartazes do Cine Éden, de Carlos Paulino, com as propagandas dos filmes da semana, mas tive a impressão de ter visto na calçada “Bigodinho” vendendo cavaco chinês e dona Francisca rolete de cana caiana e Toinho raspando gelo para colocar num copo com melaço de essência de baunilha.
Não encontrei na praça o “Café Asa Branca” que se fosse hoje seria lanchonete, onde costumava beber uma bananada com pão passado e leite pingado e muito menos a loja de Mozart Assis que vendia passagens aéreas, da Varig, com destino a diversas cidades do Brasil. E as Casas Pernambucanas que vendia tecido e ditava a moda das moças bonitas da cidade; não vi mais, junto ao paredão do açude, a casa do motor da luz, tão bem descrito em uma crônica premiada, por Luis Carlos, filho de Dr. João Izidro.
Que pena, a padaria de Zeca, na esquina da Padre Manoel Mariano, que foi deputado, com a Padre José Tomaz, que foi nosso primeiro prefeito, onde as famílias desta terra compravam o pão de cada dia, já não existe mais e dos velhos tempos resta na esquina da frente a Casa Norte, que antes era de Rosendo Bastos, hoje é de Zé Adelgides, conhecido por Zé do Rádio.
Na padre José Tomaz temos a lembrança da Sorveteria de Walmor, com seu famoso picolé de cajá, o Cine Pax, a casa de Sebastião Bandeira de Melo, a Praça do Espinho e o cemitério Coração de Maria, inaugurado em 1866. O velho “Ferro de Engomar”, famoso cabaré da cidade, que ficava colado à parede do cemitério, foi fechado pelo boêmio e frequentador prefeito Otacílio Jurema, por “imposição” de Frei Damião e das beatas da cidade.
No inicio da Juvêncio Carneiro, a Casa Moderna, de Seu Chiquinho, pai de Dr. Dingo, não vende mais os botões e as belas rendas, fitas e “cianhinhas” que enfeitavam os encantadores vestidos das belas e sedutoras mulheres cajazeirenses. Esta rua foi palco durante décadas da feira da farinha, das casas comerciais de Luis Paulo, José Tavares e Trajano Lopes.
Saindo da Juvêncio Carneiro e passando pela Travessa Santa Teresinha, na esquina com a Rua Tenente Sabino, ficava a tipografia de Horácio Alves Cavalcante, figura querida e respeitada pela comunidade. Nesta rua ainda ficava os consultórios dos médicos Deodato Cartaxo e Otacílio Jurema e o escritório de Dr. Zuca Peba, o homem rico da cidade e era quem “desapertava” o povo de Cajazeiras emprestando dinheiro. No final da rua a oficina de Expedito Cirilo era o “point” para consertar os Jipes e as rurais que Zé Cavalcanti importava de São Paulo.
Na Rua Padre Rolim, esta sim tem muitas histórias, que depois contarei, mas relembro que onde hoje está o IPEP, funcionava a prefeitura, o fórum, o cinema. Era o prédio mais histórico da cidade, em cujo frontão foi esculpido um enorme Brasão da República, sob a batuta do Mestre João. Foi no seu interior o julgamento de celebres crimes acontecidos na cidade e muitos deles com a presença de Quintinho Cunha. Foi criminosamente posto por terra para dar lugar a uma empresa telefônica, que hoje não fala mais para lugar nenhum. Cansei. Depois voltarei às ruas de Cajazeiras.
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