Amor, vida e morte
Por Francisco Frassales Cartaxo
O escritor mexicano, nascido em Jalisco, Juan Rulfo (1917-1986), referindo-se à literatura, disse que não existem mais que três temas básico: o amor, a vida e a morte. Rulfo escreveu pouco, mas foi um mestre e influenciou mais de uma geração de intelectuais da América Latina. Gabriel Garcia Márquez, por exemplo, o mais popular ficcionista das Américas no século XX, confessou que deve a Rulfo ânimo e incentivo extraordinário para continuar a escrever, após o impacto causado pela leitura e releituras da novela Pedro Páramo. Impacto tão ou maior do que lhe provocara a Metamorfose, de Kafka.
Juan Rulfo carregou muita dor dentro de si.
Aos cinco anos, teve o pai assassinado. De sua convivência no interior mexicano encheu-se da desconfiança, do medo, das decepções e dos silêncios das pessoas de carne e osso, de quem escutava sombrias histórias. A terra, mal distribuída na deformada revolução mexicana do começo do século XX, foi o cenário de seus escritos. Rulfo mesmo esclarece: A paisagem que corresponde ao que escrevo é a terra de minha infância. Esta é a paisagem que recordo. É a atmosfera desse povoado em que vivi que me deu o ambiente. Situado nesse lugar, me sinto familiarizado com personagens que não existiram, ou talvez sim.
A síntese expressa em amor, vida e morte precisa, no entanto, de laços. De fios capazes de dar vida à narrativa, entrelaçando-os. Aqui entram a memória e a saudade. Sem esses dois elementos, a forma de transmitir emoções ao leitor fica pobre. Muito pobre. Enseja até reações bocejantes. O próprio Juan Rulfo revelou que busca primeiro o personagem e, depois, suas recordações, sua maneira de falar, a arrumação de suas ideias, as associações interiores. Seus contos, publicados em revistas do interior do México, foram reunidos em livro, pela primeira vez, em 1953, dois anos antes de editar Pedro Páramo, sua única novela. A abertura de poucas linhas desse texto ficcional, de pouco mais de 100 páginas, em que ele aplica diferentes técnicas narrativas, encerra uma das mais bem urdidas artimanhas para seduzir o leitor.
Curiosidade.
Pedro Páramo foi nome posto de última hora. O livro já estava na gráfica, quando Rulfo mandou substituir o título original, Murmúrios. Quando eu soube desse detalhe, assinalei as palavras murmúrios e sussurros ao longo da narrativa, por mera curiosidade de quem é aferrado ao amor e à vida. À morte, não.
Presidente da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL
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