Alegria do taxista e voto de presidente
Por Francisco Frassales Cartaxo
Semana passada fui visitar minha primeira bisneta em Aracaju. No percurso entre o aeroporto e o hotel, bandeiras coloridas tremulavam ao vento no embalo dos contratados. Prática comum em todos os lugares. Aqui no Recife costumam prendê-las em blocos de cimento, fixos nas calçadas. Em Sergipe não vi isso.
Quando fomos do hotel à casa de minha neta, puxei conversa com o taxista. Não, não era de Aracaju, viera da cidade de Campo do Brito, perto de Itabaiana, para que as filhas pudessem estudar. São três, foi logo me dizendo, eu não tenho estudo, sabe doutor, mas o estudo é tudo na vida, eu penso assim, o rico passa a vida trabalhando, junta dinheiro, vive do bom e do melhor… aí morre. Ele leva o dinheiro? Não, mas quem estuda, sabe doutor, leva o estudo para o outro mundo. Concordei com ele.
– Deu tudo certo, todas formadas, as filhas.
Em resposta à pergunta de minha mulher, seu Antônio exibiu sua vaidade. Uma é assistente social, outra nutricionista, a mais nova fonoaudióloga. Em que época elas se formaram, eu perguntei. Indicou datas com vacilação, mas cheio de orgulho. Todas estudaram nas últimas décadas.
Quando lhe disse que sou de Cajazeiras, seu Antônio se encheu de alegria. A minha mais nova ia trabalhar em Cajazeiras… mas aí teve um problema de cota, sabe, e ela não entrou, mas vai trabalhar em João Pessoa porque passou no concurso. Cajazeiras eu não conheço, mas sei que fica perto do Juazeiro, já fiz corrida pra lá levando turista.
Aí eu me senti em casa.
– Seu Antônio, o senhor vai votar em quem para presidente?
Ele pensou um pouco, respirou fundo, e disse, o senhor quer saber mesmo de verdade? Falou medindo as palavras, tenso, contraindo-se, quase pedindo desculpa. Eu voto em Lula. Eu espantei logo sua tensão: então nós estamos no mesmo lado, seu Antônio, eu também voto em Lula! Nós votamos, animou-se Célia Maria, que a tudo escutava com atenção.
Viramos amigos.
Dia seguinte, desprezei os trocados que o uber me propiciaria e chamamos o táxi de seu Antônio. Antes da despedida, lhe passei um exemplar da Revista Especial Portal CZN, do jornalista Jota França, com linda foto de Cajazeiras na capa. É para você dar a sua filha que mora em João Pessoa, lhe falei. Conferiu a bela foto, admirado, e segredou, mas depois ela me devolve, vou guardar. Até o próximo encontro, disse, na hora do abraço. A meu lado, Célia Maria falou alto: até Lula!
Antônio abriu o sorriso, a mão em L.
Presidente da Academia Cajazeirense de Artes e Letras
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