Academia Cajazeirense de Letras
Parece um fantasma. A Academia Cajazeirense de Letras virou fantasma. E olha que ela foi “criada” com pompa, em solenidade pública, registrada no livro de ata adquirido só para ela. Exclusivo. Em julho de 1999, o presidente da Comissão Especial dos festejos do bicentenário do nascimento do padre Rolim, Edme Tavares, em carta aos conterrâneos já falava na “fundação e instalação da Academia Cajazeirense de Cultura”. Meses depois a ACL e o Instituto Histórico de Cajazeiras, (irmão gêmeo), foram anunciados em sessão solene. Fotografada e documentada em ata. Ih, ata escrita pelo autor desta crônica. Eu até esquecera… Lembrou-me Lúcia Rolim.
Há poucos meses, acompanhei um ilustre cajazeirense em audiência com o presidente da Academia Paraibana de Letras, Damião Ramos Cavalcanti. A ele pedimos subsídios para criar e instalar a nossa entidade. Tivemos mais do que orientação. Ouvimos sugestões objetivas a fim de evitar pequenos erros apontados nos Estatutos e no Regimento da instituição que ele preside. Assim, a entidade cajazeirense nasceria sem pecados veniais, insinuou Damião.
Procurei saber mais. Como se originou a APL? O saudoso Celso Mariz me socorreu, reduzindo minha ignorância. O grande mestre sousense, já com 92 anos, recordou o nascer da academia paraibana com estas palavras:
O nosso grupo da fundação (1914) está hoje diversificado em número e vigor. No princípio foi Coriolano de Medeiros, Álvaro de Carvalho, Matias Freire, Veiga Júnior, Horácio de Almeida, Hortênsio Ribeiro, Luiz Pinto, Rocha Barreto, Durval Albuquerque e também nós. Quatro mortos, dois ausentes, um com o peso de 92 janeiros, sem força nas pernas nem luz nos olhos, e os três restantes doentes ou afastados. Nenhum dos primitivos atua mais no sodalício.
O sonho da Academia era antigo. Matias Freire chegara a promover a criação por decreto no tempo discricionário de Argemiro de Figueiredo. Mas nada da coisa vingar. Até que o primeiro da lista acima, com a sua idade, o seu valor e prestígio, um belo dia, autoritariamente, deu sanção à velha ideia. Foi na Biblioteca Pública. Coriolano havia convidado pessoalmente alguns e telefonado a outros que foram chegando. Quando somávamos dez, Coriolano sentou-se no centro da mesa grande e declarou que passávamos a constituir a Academia Paraibana de Letras, nada havendo a discutir. Nomeou comissão para redigir os Estatutos e tudo surgiu com pressa em ordem até o fim.
Pronto, acabou a masturbação intelectual.
Os cochichos morreram. A fogueira prévia das vaidades virou engenho de fogo morto. Só foi crepitar mais adiante nos corredores do sodalício, em comentários maliciosos, nos elogios seguidos de dissimulados risos no canto da boca, essas coisas comuns em grupos sociais que pensam ter um rei na barriga. Tudo bem, deixa pra lá. A fórmula existe. Alguém precisa chamar o feito à ordem. Reunir uma dúzia de professores, poetas, escritores, jornalistas, radialistas e quem mais seja, colocar uma lista dos patronos num pedaço de papel, escolher a comissão para redigir os Estatutos e o Regimento Interno. Depois, anunciar em cadeia de rádio o grande evento.
Falta um porém.
Não pode demorar muito. O São João está à porta. De repente, aparece meia dúzia de gravetos de trapiá e, sem mais nem menos, surge uma fagulha… aí acende fogueiras de vaidade em tudo que é cabeça de intelectual cajazeirense. E de novo, voltaremos aos cochichos…
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