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Francisco Cartaxo

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A urna eletrônica e o golpe

16/05/2022 às 21h16

(Imagem ilustrativa).

Por Francisco Frassales Cartaxo

A urna eletrônica virou espantalho. Um instrumento, criado e aperfeiçoado ao longo de anos pela tecnologia brasileira, de repente se transforma em perigosa armadilha. Preparam um golpe? O voto eletrônico sob suspeição de fraude, desvio, manipulação… Que loucura é essa? A urna eletrônica foi usada, pela primeira vez, em 1996, nas capitais e grandes cidades. Já em 2000 alcançava todo o Brasil. Nunca tivemos nada mais seguro. O voto eletrônico é o maior avanço democrático na aferição da vontade popular.

Um pouco de história faz bem.

No Império o voto era uma ficção. Pouca gente podia votar. Pouquíssimos se habilitavam ao exercício de cargos eletivos. De que maneira? Os grandes chefes escolhiam os “eleitos”, formavam as chapas e divulgavam. O passo seguinte era só o ritual da “eleição a bico de pena”. A Primeira República usou métodos quase iguais, desde a “qualificação” do eleitor, passando pela composição das mesas receptoras de votos, as listas de eleitores, preenchidas por chefes, cabos eleitorais a até por meninos alfabetizados. Exemplos? Basta ler o livro de memória de Tota Assis (pai de Alexandre Costa), que, com oito anos de idade, a mando do escrivão Waldomiro de Albuquerque, escreveu nomes de eleitores do coronel Sabino Rolim…

A grande mudança começou após a vitória do movimento de 1930, em cuja “plataforma” os tenentes incluíram a abolição das fraudes praticadas por meio de eleitores fantasmas, atas falsas e, na fase final do processo eleitoral, a “degola” de candidatos nas assembleias estaduais, câmara e senado. Naquele tempo, a eleição era um faz-de-conta e os tenentes democratas. Criada em 1932, a Justiça Eleitoral foi a maior conquista da revolução de trinta, a fim de mudar o sistema de votação no Brasil.

Mas veio o golpe de 1937.

E interrompeu o processo, só retomado após a queda de Getúlio. Daí em diante o voto democrático ganhou fôlego, sendo aperfeiçoado a cada eleição para abolir os currais eleitorais, o voto de cabresto, o mapismo e outras formas de burlar a vontade do eleitor. O coroamento desse avanço ocorreu com a Constituição de 1988, que espanou os artifícios criados no tempo da ditadura. Então, nada melhor do que a urna eletrônica: resguarda o sigilo e permite a apuração instantânea dos votos.

Agora querem inventar, à semelhança da República Velha, a Comissão de Reconhecimento de Poderes, disfarçada num comitê militar de verificação de votos. Valha-nos Deus!

Autor do livro “Do bico de pena à urna eletrônica”.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

Contato: [email protected]

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Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

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