A tristeza da praça
Por Mariana Moreira
A algazarra denuncia a presença de crianças e adolescentes em reboliços de folguedos e traquinagens. Na praça recém reformada a fonte de água azulada se converte em aprazível piscina e palco para as aventuras de cambalhotas e mergulhos dimensionados em pequenos espaços que ganham a projeção de “mares nunca dantes navegados”. A cidade entra em pé de guerra com tamanha “afronta”.
– Como pode a Praça da Matriz, com seu coreto evocando lembranças e memórias de namoros passados, beijos fortuitos, promessas de felicidades vindouras, ser maculada em sua beleza restaurada?
– Onde estão os responsáveis pelo zelo da coisa pública e os responsáveis por essas crianças e adolescentes que transformam a fonte da praça em piscina pública, denegrindo a paisagem?
E a ordem é estabelecida na paisagem. Um guarda municipal finca sua imaginária torre de vigilância em local estratégico, afugentando quaisquer aventureiros que alimentem o atrevimento de distorcer o único destino da praça: o de ser lugar de contemplação da beleza de outrora, mortificada em desenhos, traçados, beirais, atualizados em jardins, bancos, passarelas.
E a Praça segue incólume, ostentada em cartões postais, fotos e postagens de redes sociais, blogs. Comentários exaltam sua beleza. Saudosistas rememoram momentos felizes desfrutados em ontens de retretas, flertes e roletes de cana que anunciam festas religiosas e encontros sociais. Filhos ausentes constroem aproximações com as lembranças da terra ainda mais distante em razão das interdições de mobilidade que a pandemia impõe.
E a Praça, restaurada em sua arquitetura, paisagem, canteiros e plantas, promete seguir cuidada como melhor documento da conservação da memória histórica da cidade, embora na vizinhança a cumplicidade de poderes políticos e econômicos incrementam a especulação imobiliária que desconfiguram casarões, fachadas, casas, em nome da modernidade e do progresso. Ora, mas a fonte continua jorrando para encantamento dos que, ordeiramente, circulam as passarelas e canteiros na cata do melhor ângulo para registro de posteridade.
E a praça, silenciosamente, geme a ausência de vida. Sente a tristeza de não ouvir os gritos e desafios dos meninos que, em piruetas e malabarismos, mergulhavam em sua fonte. Apenas fortuitos passarinhos transgridem a ordem e cantam nos galhos de teu flaboyant. Afinal, ainda não conseguiram silenciar e interditar totalmente a liberdade do voo!
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