A revolução do sorriso de Maria
A singeleza traduzida numa profusão de lilases quebra a sisudez do ambiente marcado pela pressa cotidiana de nossas vidas. Uma pressa que, atribulada, esconde e camufla na impessoalidade e na indiferença atos e gestos de afeto e de simples manifestação de calor humano. A miudeza das dimensões de suas pétalas se dilui entre mesas, birôs, telas pós modernas de artefatos tecnológicos que segregam e isolam homens e idéias em uma intrincada aldeia global.
E quanta repercussão a simplicidade desencadeia. Reações de espanto, de simpatia. Gestos, expressões e manifestações de prazer e de encanto pelo simples fato da presença de um vaso de flores quebrando a monotonia e a frieza de nossas indiferenças. Um singelo vaso de flores que também provoca o desejo de saber como tratamos os indivíduos e as circunstancias insignificantes que, no nosso cotidiano, transitam pelas trilhas da invisibilidade de nossas atenções e de nossos afetos e gestos de atenção e reciprocidade.
A invisibilidade que esconde o gesto de um bom dia ao varredor de rua que, nos primeiros raios do dia, recolhe nossas sujeiras urbanas e que, de tão insignificantes para nossas presunções sociais, se escondem e desaparecem atrás dos cabos de vassouras e carrinhos de lixo. A indiferença que nos faz negar um gesto de mão estendida para um mendigo de roupas esfarrapadas e cheiro nauseante aos nossos olfatos habituados aos odores agradáveis da higiene estéril de nossas pretensões de humanos. A frieza que contamina nossos gestos de repetição mecânica de saudações e afetos sem sentido e sem direção.
O nome das flores que convulsionou nosso ambiente também traz a expressão da simplicidade. Um nome composto de substantivos fortes e capazes de movimentar sentimentos e alterar cursos e trajetos de ações cotidianas. Apenas e somente sorriso de Maria. Nas variadas matizes de lilás e na reduzida dimensão de sua circunferência se espraia toda a gama de possibilidades de que ainda somos capazes de gestos simples e de atitudes nobres e gentis, que nos tornam humanos enquanto únicos seres dotados da potencialidade de amar e manifestar esse amor no abraço, no bom dia, na apreciação da banalidade de uma flor insignificante, no olhar de cumplicidade e afeto com os deserdados da sorte e das benesses, no despir dos receios e medos de aconchegar os rotos e esfarrapados que trazem a catinga de nossas mazelas.
E as flores sorriso de Maria permaneceram viçosas e alegres em um canto displicente de nossa mesa de trabalho como a mais sincera manifestação do carinho, gentileza e afeto da companheira Raimunda de Fátima que, sem nenhuma pretensão de arrogância ou presunção, nos presenteou com as flores que, por muitos momentos, fizeram as revoluções afetivas e generosas em nossas existências.
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