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José Anchieta

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A música é o mais próximo que temos…

22/06/2008 às 11h19

Caros leitores, esta semana trago ao deleite de todos uma entrevista lida no site de informações eclesiais Zenit feita aos 11 de junho (esta semana, portanto) com um jovem cantor e compositor italiano, Alfredo Caponnetto, formado em composição musical pelo Instituto Superior de Estudos Musicais de Catania (Itália). Acaba de compor a dramática oração “Exaudi”. Faz também outras belíssimas considerações. Gostaria de compartilhar com os senhores. A entrevista foi concedida à jornalista Claudia Soberón e publicada em www.zenit.com (aos 11 de junho de 2008).

-Que é a música na sua vida? -Caponnetto: A música em minha vida representa uma linguagem intelectual e emotiva que penetra qualquer barreira, pois não depende de uma semântica pré-estabelecida e conceitual. É atemporal, transcende ideologias e o mundo tangível. Desde o ponto de vista pragmático, estimula nossa imaginação e fomenta o desenvolvimento cerebral. A música, em poucas palavras, enobrece muitos aspectos de nossas vidas.

-Com a música, é possível descobrir Deus? -Caponnetto: A música nos proporciona momentos de grande iluminação. A experiência musical nos aproxima dos princípios estéticos de transcendência e sublimidade. Ela nos dá a sensibilidade de entender e olhar para dentro de conceitos tão grandes e misteriosos, como o amor, e os eleva ao sublime. Quem de nós não experimentou a sensação da suspensão das coordenadas do espaço e do tempo frente a uma obra de arte musical? Ou seja, a contemplação intelectual da eternidade transcende nossa natureza humana. Esta vivência pode ocorrer através da simples assimilação sensorial ou através do entendimento racional da obra. A transfiguração do mundo através da beleza artística nos aproxima mais do entendimento da Unidade. A música é o mais próximo que temos da voz de Deus.

-Por que o salmo 55? -Caponnetto: Exaudi (publicada por Europa Edition) representa uma viagem interior aos mais profundos cantos do espírito humano. Reflete nossos medos, inquietudes e esperanças. A música está unida aos versos do salmo e seu significado. O salmo está relacionado com David e suas súplicas a Deus pelo medo que lhe causam seus inimigos em Jerusalém. A primeira parte simboliza uma oração a Deus para que preste ouvido a seus temores. A segunda parte expressa a dor e a inquietude que David tinha quando seu coração literalmente saltava de temor diante da possibilidade de que seus inimigos o matassem. A terceira e última seção utiliza o símbolo da pomba para representar a paz e a serenidade tanto desejada. David desejava voar a algum lugar onde não fosse perseguido e encontrado por seus inimigos. É muito simples criar analogias com nossas próprias vidas a partir destes versos do salmo 55. A música sublinha e transcende seu significado, tornando-o ainda mais universal.

-Como surgiu a idéia de realizar uma composição sobre o Salmo 55? -Caponnetto: A musicalização das Sagradas Escrituras ou de textos religiosos não é algo novo. Na realidade, estas proporcionaram inspiração e material para a criação de grandes obras-primas durante séculos. Basta pensar nas Missas de Palestrina, no «Vespro della Beata Vergine Maria» de Monteverdi, nas Missas de Mozart e Beethoven, por exemplo. O texto do Salmo 55 complementa e transmite perfeitamente as idéias musicais que estão contidas em Exaudi. Pareceu-me a síntese perfeita para tratar de temas relacionados com a existência e o drama interior da vida humana, a turbulência e fragilidade do espírito, assim como a resposta de fé e esperança.

-Por que quer mandar esta composição para o Vaticano? -Caponnetto: Dom Valentin Miserachs Grau, diretor do Pontifício Instituto de Música Sacra, em 2007, falou acerca dos desvios à tradição na interpretação e no repertório da música sacra. O próprio Papa apontou a necessidade de uma continuidade na tradição musical, ligada ao canto gregoriano como ponto de início. Exaudi é uma composição que está em linha com a tradição intelectual musical que serviu a Igreja Católica desde tempos anteriores à recopilação das melodias gregorianas há mais de mil anos. A linguagem musical desta peça é herdeira de séculos de tradição, mas não por isso carece de contemporaneidade. Seria para mim uma honra que Sua Santidade em pessoa pudesse desfrutar de uma composição dessa natureza. Também é minha intenção que uma cópia de Exaudi permaneça na Biblioteca do Vaticano para futuras referências e interpretações. A música, como a oração, é sopro de vida que deve ser transmitida para que chegue a tocar a alma.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

José Anchieta

José Anchieta

Redator do Jornal Gazeta do Alto Piranhas, Radialista, Professor formado em Letras pela UFPB.

Contato: [email protected]

José Anchieta

José Anchieta

Redator do Jornal Gazeta do Alto Piranhas, Radialista, Professor formado em Letras pela UFPB.

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