A Morte do tenente João Cartaxo (5)
Mártir do Partido Liberal. O tenente João Cartaxo tem sido proclamado herói ou mártir da independência de Cajazeiras. Um equívoco, aliás, já desfeito por vários pesquisadores, em especial, João Rolim da Cunha, no livro Barra da Timbaúba, e Armando Gomes da Silva, no seu Cartaxos: Origens e Ramificações. Este foi explícito ao extremo, ao informar que a eleição de 18 de agosto de 1872 se destinava a “renovar o quadro de Vereadores para a Câmara Municipal. Nada tinha a ver com a emancipação de Cajazeiras, posto que seu desmembramento político e territorial de Sousa já se efetivara em 23.11.1863, com a promulgação da Lei nº 92, sancionada pelo Presidente da Província em exercício, Francisco de Araújo Lima.” Apesar da clareza do texto, vez por outra, ainda há quem incida no erro histórico. O tenente João Cartaxo pode ser um mártir do Partido Liberal, ele que era o seu chefe quando foi morto. Portanto, deve-se preservar a memória do jovem político como herói partidário, jamais como baluarte da independência de Cajazeiras. Ou seu patrono.
Outro equívoco é fazer do tenente João Cartaxo chefe do Partido Liberal Geopolítico Brasileiro. Um partido que nunca existiu. Muito menos no longínquo ano de 1872! Não há na literatura política do Império a mais leve referência a esse partido. Por quê? Porque sequer havia no século XIX a palavra “geopolítica” na língua portuguesa! Pode-se atribuir a suposta filiação do tenente João Antônio do Couto Cartaxo ao tal PLGB ao excesso de entusiasmo do saudoso escritor Otacílio Dantas Cartaxo pelos estudos da geopolítica, de que se fez arauto, e até escreveu o livro O Problema Geopolítico Brasileiro, incluindo um inusitado projeto de Constituição Geopolítica do Brasil. Tudo a seu modo, trafegando nos limites do real com o imaginário, do folclórico, repleto de amor às coisas do sertão. Sempre. Amor e irreverência literária.
Convém esclarecer melhor outros pontos históricos obscuros. No tempo da Monarquia brasileira, havia dois partidos políticos, Liberal e Conservador, que se revezavam no comando do Parlamento e do Gabinete de Ministros, à sombra do Poder Moderador, inerente ao imperador Pedro II. As mudanças políticas ocorridas na Corte se projetavam nas províncias, nos municípios e até nas mais distantes povoações, como Santa Fé, por exemplo, onde a presença mais forte do Estado se materializava no cargo de subdelegado. Pois bem, desde que o município de Cajazeiras foi instalado, após sua criação em 1863, o Partido Conservador reinou em nossa terra, muito embora o Partido Liberal congregasse o bloco político hegemônico. Portanto, os primeiros prefeitos de Cajazeiras (padre José Tomaz de Albuquerque, Manoel Cezário de Albuquerque, João Pires Ferreira e João Franco de Albuquerque) integravam os quadros do Partido Conservador. Assim foi naquele tempo.
É bom recordar que, nos seus primeiros anos de existência, o município de Cajazeiras se estendia até o distrito de São José de Piranhas que, por sua fez, incorporava o povoado de Santa Fé, onde mandava o chefe do Partido Conservador, alferes João Pires Ferreira, acusado de ser o responsável pelo massacre eleitoral de 1872. Por isso, e só por isso, houve o tiroteio e as mortes na Praça da Matriz, porque se dependesse dos chefes cajazeirenses do Partido Conservador não estaríamos ainda hoje, 143 anos depois, a aborrecer o leitor, com exumação de defuntos.
Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.
Leia mais notícias no www.diariodosertao.com.br/colunistas, siga nas redes sociais: Facebook, Twitter, Instagram e veja nossos vídeos no Play Diário. Envie informações à Redação pelo WhatsApp (83) 99157-2802.
Deixe seu comentário