A morte do tenente João Cartaxo (3)
Alferes João Pires Ferreira. Chefe do Partido Conservador de Santa Fé, João Pires foi acusado de ser cúmplice do massacre eleitoral de Cajazeiras de 18 de agosto de 1872. Em julgamento na primeira instância ele foi absolvido, o que levou a família do tenente João Antonio do Couto Cartaxo a apelar da sentença ao Tribunal da Relação, por iniciativa de Anna Josefha de Jesus, mãe da vítima. Ela nomeou como procuradores famosos advogados no Recife: Joaquim José da Fonseca, Gurgel do Amaral, Aprígio Guimarães. A decisão do Tribunal foi favorável à apelante, sendo o Processo devolvido a Cajazeiras para novo julgamento.
O jovem advogado Neuribertson Monteiro Leite elaborou trabalho acadêmico com base em partes do Processo, por ele localizadas nos arquivos da comarca de Cajazeiras, onde presta serviço como oficial de justiça. O estudo, concluído em 2012, fez parte de suas tarefas como aluno do doutorado em Direito Penal da Universidade de Buenos Aires. Nele encontram-se preciosos dados do lamentável episódio, significando valiosa contribuição ao conhecimento de nossa história política. Apesar de esforços como este e de relatos de pesquisadores, memorialistas, historiadores e de estudiosos do nosso passado continua a existir profunda ignorância a respeito do alferes João Pires Ferreira, o “vilão” do morticínio de 1872, segundo a tradição oral e registros históricos.
Quem era o alferes João Pires Ferreira?
Pouco se sabe além de sua condição de chefe do Partido Conservador de Santa Fé, um lugar estigmatizado pela violência, por encrencas familiares, coito de bandidos e perseguições de toda espécie sob o primado da bala, da faca e do punhal. Sabe-se também que ele foi suplente de juiz municipal e prefeito de Cajazeiras nas décadas de 1860 e 1870, quando estava de cima no Brasil o Partido Conservador. Deusdedit Leitão informa que João Pires Ferreira nasceu em São José de Piranhas e traça dele um perfil adverso: “Voluntarioso e agressivo, era um espírito fascinado pela volúpia do quero, posso e mando. Gostava de impor aos outros o poderio de sua vontade, pouco importando-lhe o juízo que fizessem de sua conduta, como homem forte e decidido.” Prefeito eleito em 1868, reconduzido em 1872, segundo Deusdedit, a gestão do alferes “foi um período de agitação política para Cajazeiras”. Os adversários o acusavam de atos de perseguições, como o fechamento da botica de Dyonísio Afonso Daniel, a única então existente. Atribuem a ele a “soltura do facínora Geminiano Barbosa, conhecido por Gesuíno de Santa Fé, que, dois anos depois, seria um dos bárbaros chacinadores do tenente João Cartaxo”.
Os liberais de Cajazeiras, em matéria divulgada no jornal A Província, do Recife, apontavam guardas-costas do alferes João Pires como os assassinos do sargento Antonio de Souza Marques e de Saturnino Rodrigues Barrento. Na condição de subdelegado de Santa Fé, Barrento cumprira, com ajuda de Marques, diligência policial determinada pelo presidente da província da Paraíba, Francisco Teixeira de Sá, após o episódio sangrento de Cajazeiras. João Pires, além de instigador do massacre eleitoral de Cajazeiras, teria sido também o mandante do assassinato do sargento Antonio Marques e do subdelegado Saturnino Barrento. Conclui-se, portanto, que o alferes João Pires Ferreira agia com base no terror, no medo, vingando-se com violência.
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